segunda-feira, 27 de abril de 2009

A física no Templo


Hoje ouvia uma conversa entre duas senhoras no ônibus, sobre o Templo e já havia ouvido um pastor proclamar de coração aberto (era uma boa alma), que tinha dez reais no bolso, mas sentia que seu irmão precisava mais daqueles dez que ele. Deu, de coração aberto, porque sabia que viria mais para ele, que nada faltaria. A conversa das senhoras no ônibus girava em torno da transformação da "alma"do cidadão que havia se convertido, porque acreditava que poderia ser uma pessoa melhor. E eu, que sempre fui avessa a religião desde que saí da Sacramentinas, colégio de freiras rigorosas e fervorosas, onde os padres eram gays e rígidos, principalmente com as meninas, claro, que mostravam um Deus punitivo, cheio de sofrimento, que só carregava sua cruz pra onde quer que fosse. Da minha adolescência religiosa descobri que nós mesmos escolhemos nossas cruzes e a carregamos junto com nossa mala e nos sentimos pesados, sem termos a clarividência do que carregamos. Filosofia pura, que pode ser revelada e percebida na prática. Dos templos, descobri que usam um dos pilares da física quântica, onde simplistamente, levam o outro a crer que se desejam de coração, aquilo que é só energia, que não se materializou no plano ainda, seu desejo pode tornar-se algo concreto. A física quântica, troço difícil, complicado de entender num mundo tão cartesiano, virou filme, modismo e agora (ou desde a criação dos templos) religião. Bem, de uma forma ou de outra, o povo sempre sabe de todas as verdades, mesmo que não as compreenda conscientemente. E os "padres templários" por pura esperteza ou crença, apostaram no que ninguém via e acertaram na mega sena. Assim é que hoje, já tenho mais respeito por estes templos e fora a teatralidade da coisa, creio que visitarei um algum dia destes, para ver a física quântica pregada na prática...

terça-feira, 21 de abril de 2009

O Casamento de Clara


Este conto é dedicado a todas as minhas amigas, a uma em especial. Escrevi porque acredito que as mulheres iludem-se facilmente, principalmente quando há tesão no meio e os homens, aproveitam-se disto. Mas há aqueles, que desfrutam da gente inteira e que desejam estar com a gente até que a vida ou a morte nos separe. E são para eles que desejo que todas as minhas amigas migrem e dêem atenção.

Clara (suspiro)... era realmente clara, ela pensava e se olhava no espelho como se estivesse se vendo pela primeira vez. Não era tão bonita, podia ter menos quadril, ser mais magra. Mas, no geral, não era feia. E por que cargas d’água não havia encontrado seu príncipe encantado ainda? Ela nem sequer sabia se acreditava em príncipes encantados! Da sua realidade, a conclusão que podia tirar era que só existiam sapos. Abandonou seus pensamentos e resolveu ir a praia. Pensar na sua própria solidão só a deprimia mais, ainda mais agora, que todas as suas amigas estavam namorando. Passeava pela beira da praia, sentindo, com prazer, a brisa carregar seus cabelos e levantar sua canga. Quando olhou pro mar, conteve-se para não parar de caminhar. Ele era alto, branco, de cabelos bem negros, que lhe caíam em cachos ao redor da face. Seu corpo era bonito, mas não chegava a ser atlético, sua silhueta era muito agradável, apesar de não ser nenhum Rodrigo Santoro (o modelo de Clara de beleza masculina). Ele passou por ela e nem sequer a notou. Clara afundou-se em melancolia. Será que havia realmente tornado-se transparente? Ficou lá boiando no mar, com algumas lágrimas de tristeza lhe escorrendo entre as bochechas.

Na saída da praia encontrou umas conhecidas. Clara que falava pelos cotovelos, falou sobre coisas banais, por pelo menos, cinco minutos, e saiu feliz por ter se tornado visível para alguém, mesmo que fosse do mesmo sexo que o seu. No alto dos seus 25 anos, Clara já havia tido algumas experiências sexuais, nenhuma delas resultou em namoro sério, que dirá em casamento, mas este era um tema que Clara preferia não pensar, pois tinha medo de tornar-se solteirona como suas tias e como sua própria mãe. Bloqueou o pensamento, para não perceber que, de tanto medo, estava seguindo o mesmo caminho.

A segunda-feira havia chegado e Clara havia feito exatamente a mesma coisa que fazia todos os finais de semana. Leu revistas, o jornal do domingo, foi ao teatro e ao cinema, tomou um café na delicatessen com a mãe e hoje, como sempre, estava saindo com, pelo menos, dez minutos de atraso para o trabalho. Estava cansada daquela rotina, até o atraso era rotineiro Precisava de algo que a tirasse desta pasmaceira de maneira urgente! O que poderia fazer para mudar sua vida?!

Trabalhava numa empresa de propaganda. Quando entrou na Faculdade achava o máximo aquelas pessoas tão diferentes dela, todas estilosas e descoladas. Mas, lá só aprendeu mesmo a fumar maconha e beber. Como nunca sentiu nada daquilo que os outros sentiam com a erva, abandonou este hábito rapidinho. E a bebida, foi deixando para ocasiões sociais. Seus momentos de embriaguez foram tão embaraçosos, que ela gostaria de ter inventado uma pílula do esquecimento para fazer com que todos esquecessem os choros, as brigas e as coisas más que dizia aos outros. Quase não acreditou quando chegou no trabalho e viu o moreno que havia lhe arrebatado na praia sentado na mesa à frente da sua. Com a minha sorte, deve ser o namorado da Gabriela que veio pegá-la antes da sua partida para Espanha, pensou Clara. Mas o que é que há na Espanha, que tanta gente está indo pra lá?! Eu é que não vou, se fosse para Califórnia, fazer cinema, eu até ia, mas para Espanha?! É, mas para ir à Califórnia, tinha que primeiro mandar minha mãe juntar dinheiro, para não deixar ela aqui sozinha... Clara! Ouviu alguém pronunciar seu nome. Era seu chefe. Clara, quero te apresentar ao Felipe. Ele será nosso novo webdesigner e ocupará o lugar de Gabriela. Ela mal podia acreditar! Vá para Espanha, sua balofa e deixe o gatinho entrar! Aleluia, ela pensava eufórica, mas sua face não espremia absolutamente nada. Para conseguir manter-se neutra, pensou logo que se na praia ele não a havia notado, ali, não seria diferente. Aí seu chefe disse as palavras mágicas que a tirariam do anonimato. Clara, gostaria que você, que é tão falante e tão simpática, o ajudasse nesta fase inicial. A garota acenou com a cabeça e esboçou um leve sorriso.

No primeiro dia, quase não se falaram, quer dizer, só trocaram informações sobre processos e essas coisas básicas de empresa. Fato que arrasou Clara e a devolveu à invisibilidade. No segundo dia, ele saiu para pegar um café e voltou com dois, um pra ele e outro pra ela. Ela nem sequer precisou pedir, que maravilha, pensou. No terceiro, ele a convidou para almoçar, no refeitório da empresa, junto com todos os outros funcionários, mas ele a havia convidado! No quarto, ele começou a falar dele, das suas aventuras pelo Brasil. Nós somos tão diferentes, pensou, Clara, ele já conhece quase todo o Brasil, é tão charmoso, fala três línguas! Ah! Suspirou e continuou a escutar e a opinar sobre a vida do rapaz. Será que ele um dia se interessaria por ela que era tão medíocre. Falava inglês, não com muita fluência, só conhecia São Paulo, porque concorreu com um curta na Mostra de Cinema e, só ia para praia quando ficava deprimida. Quando ouviu ele dizer que morava na Barra, seus olhos se animaram. Eu também! Ela exclamou. Que coincidência! Pelo menos temos algo em comum, pensou feliz. No quinto dia, ele perguntou se ela ia para o bar da esquina, tomar algo com os colegas. Ela disse que não sabia, ele insistiu de um modo que foi crucial para o seu sim: “Poxa, se você não for eu vou me sentir tão deslocado. Vamos, me ajude a me socializar!” O pensamento brotou como um grito do peito de Clara: Vai, meu filho, diz logo que é louco por mim, me leva para cama que eu não estou mais agüentando! Enfim, ela, que já havia planejado esta noite, umas mil vezes, sendo que, em nenhuma delas os colegas de trabalho estavam presentes e o bar da esquina era um restaurante romântico a luz de velas, não pode resistir. Afinal, era um convite tão doce! Foram, ele se sentou ao lado dela. Clara começou a beber rápido, para que ninguém percebesse o quanto estava nervosa. A bebida é um bom relaxante muscular, pensava ela, já ficando um pouco trêmula só de imaginar ele a convidando para sair. Talvez pelo efeito do álcool, talvez pelo seu próprio desejo, todos os olhares, gestos e ações de Felipe eram voltados pra ela. Preciso me controlar, ela pensava, já estou ficando histérica, mas está na cara que ele está me dando mole! Sua certeza chegou no êxtase quando ele passou a mão leve e gentilmente por sua coxa, fato que a faz estremecer, e ainda pediu seu telefone para que ele pudesse convidá-la para a praia no final de semana. Meu Deus, Clara afirmava para si mesma, que cavalheiro! Não querendo me convidar na frente de todos e criar fofoca no escritório, ele pegou meu telefone, sem que ninguém tivesse se dado conta para sairmos e começarmos a namorar daí. Ninguém do escritório precisava saber. Que gentleman! Clara mal acabara de concluir seu pensamento, quando se depara com Felipe indo embora acompanhado da criatura do pântano da Nilza! Clara já não sabia se estava alucinando, porque aquilo só podia ser um pesadelo, ou se estava ficando louca de imaginar que o cara passou a noite conversando com ela, dando mole pra ela e acaba levando outra, com quem ele conversou por cinco minutos para casa. Será que falei demais? Que o sufoquei? Indagava-se Clara, já a ponto de chorar. Levantou-se dizendo que ia ao banheiro, o mundo todo rodava, foi para casa.

No dia seguinte acordou com um som que mais parecia que todos os sinos da Igreja batiam em uníssono em sua cabeça. Abriu a porta não havia ninguém, desligou o alarme, mas ele não tocou, atendeu o telefone e, nada. Que inferno de onde vem este som?! Descobriu seu celular e abriu o flip muito mais para livrar-se do som, do que por vontade de falar com alguém. Felipe disse “uau! Que noite boa a sua! Estou te ligando desde as nove horas da manhã e nada!” Clara sentiu a raiva subir pela sua espinha. Como é que o filha da puta tinha coragem de ligar para ela depois do que fez ontem?! O que ele queria? Dizer-lhe como foi a noite dele, trepando com a Nilza até às 08:00 da manhã? Ela limitou-se a responder: Estou de ressaca, na segunda nos falamos. E bateu o telefone na cara do rapaz. A mãe a olhou preocupada. Está tudo bem, meu anjo?! Nunca a vi assim. Clara que sempre fora tão objetiva nas suas relações, a mãe arriscava dizer dominadora e centralizadora, estava agora em frangalhos. Ela nem sequer sabia que ela estava numa relação. Era seu namorado, filha?! Clara, olhou para mãe com os olhos vermelhos de raiva e retrucou “Nunca!”

Do outro lado da linha o Felipe estava tentando obstinadamente se livrar da Nilza. Achava que o encontro com a Clara fosse sua salvação, mas a menina, havia batido o telefone na sua cara. Mesmo assim usou o encontro como pretexto para livrar-se da mulher. Deixou-a no ponto de ônibus e foi para a praia. Depois de surfar por algumas horas, foi para casa, tomou uma ducha e ligou para Clara, para almoçarem juntos. Achou estranho ela não ter atendido, resolveu passar na casa dela. Buzinou em todos os andares até que ouviu a voz de uma senhora rosnar “pois não” – pensou, esta deve ser a mãe da Clara! – e como se estivesse sendo esperado disse, A Clara ta aí, é o Felipe. A mãe, que não sabia da missa à metade, ficou radiante da filha finalmente estar namorando. Com isto, não só deixou o rapaz entrar, como o acolheu calorosamente. Felipe se sentiu em casa rapidamente. Quando Clara voltou do mercado e se deparou com Felipe no chão da sala, consertando o ventilador para sua mãe, quase teve um infarto e o evento só não foi uma tragédia porque conteve a queda dos doze ovos que havia comprado. Posso saber o que você está fazendo aqui? – questionou ela ainda em cólera. Vim almoçar com vocês. Vocês, quem? Saiu olhando pros lados tentando encontrar vestígios da Nilza. Com você e a sua mãe. Clara, cadê a educação que te dei? É assim que se recebe as visitas? – indagou a mãe, que ouviu como recíproca: Não, mãe, é do seu jeito, colocando elas pra consertar tudo o que está quebrado na casa! A mãe ficou lívida, o mocinho deu um sorriso amarelo e comentou que ela devia ter dormido pouco e, por isto, estava de mal humor. Foi para cozinha ver a menina. “Sabia que delicadeza na hora do almoço abre meu apetite?!” – ironizou Felipe. “É, então, vá encontrar a sua delicadeza em outro lugar, porque aqui, você não vai encontrá-la. Quem te convidou?! Como é que você vem pra casa dos outros sem ser convidado? Eu por acaso te disse, venha almoçar comigo amanhã, disse?! Então, meu filho, você, é o cúmulo do indelicado, não pode falar de mim! Ponha-se daqui para fora!”- vociferou Clara.

Foi neste momento que a mãe interferiu. Clara Dantas, o menino fica! Clara detonou a cara da mãe em pensamento, engoliu a seco e foi para o quarto. Mais uma vez, o Felipe foi atrás dela. “Fala sério, você gosta que eu fique atrás de você, né?!”- disse Felipe com um tom de malandro. “ Não, quero privacidade e espaço, coisa que achei que poderia ter na minha própria casa e na minha vida, até você chegar”- zombou Clara. O rapaz não entendia porquê Clara estava tão nervosa. Lançou a última pedra, para evitar passar um sábado solitário e enfadonho. “Tá, eu almoço aqui e vou embora. Mas, aviso logo que eu tenho ingressos para o pré-lançamento do filme Esmeralda e queria vê-lo com você...” – replicou Felipe. Os olhos de Clara se iluminaram. “Esmeralda?! Nossa, eu estava louca para vê-lo...”- disse Clara já visualizando o lindo trailler da película.”Então, eu fico aqui até umas 5 e a gente vai pro cinema juntos. Topa?”- arriscou Felipe. A tarde decorreu tranqüila.

Clara já quase havia esquecido o incidente “Nilza”. Voltou a sonhar com Felipe lhe fazendo juras de amor. No cinema, Felipe apoiou a cabeça em seu ombro e ficou assim o filme todo. Puxava sua mão para guiá-la. Ela estava namorando! Pensou! No domingo, foram a praia, comeram juntos e se despediram só à noite.Clara já não se agüentava de tesão. Mas, Felipe parecia levar tudo muito bem. A semana passou, ela começou a ir e voltar do trabalho com ele. Chegou a sexta, a turma do trabalho saiu e o Felipe ficou com a Dóris.

P U T A Q U E P A R I U! – Desta vez, Clara não pode se conter, exclamou em alto e bom som. Mas, todos acharam que ela era apenas uma entusiasta revoltada com a forma como as lideranças encaravam a crise mundial.Voltou para casa. Trêmula, não mais de tesão, não mais de paixão, mas de pura auto comiseração. Ela estava certa, era invisível, não era mulher de parar o trânsito, não era mulher de parar nem construção! Em meio a estes pensamentos, atravessou a rua e quase foi atropelada, desviaram, não pararam o carro. Nem suicida, ela conseguia parar o trânsito.

Na manhã do sábado, seu celular começou a tocar às nove e meia. Ela adivinhando quem era, ficou na dúvida se atendia ou não. Não atendeu. Felipe acabou aparecendo. Chegou cumprimentando a mãe – que sem saber do inferno que o rapaz fazia na vida de Clara, ficava feliz da filha, finalmente, ter arrumado um namorado. Será que desta vez ela casa? – sonhava sua mãe. Clara se deu conta de que havia alguém na casa, porque Felipe entrou no seu quarto, beijou sua testa e deitou na cama com ela. “É o fim da picada!” – exclamou a menina. Felipe, ignorando o recado, disse que ela cheirava tão bem, que a cama dela era tão macia, propôs que dormissem um pouco e fechou os olhos. Clara, não se conteve, empurrou o menino da cama, derrubando-o no chão. Felipe, assustado, com a reação inesperada, questionou o porquê de uma atitude tão bruta. A garota, que já se sentia com o jogo perdido, ou com delírios esquizofrênicos, responde aos berros que se ele quisesse dormir que ele fosse pra casa de Dóris ou Nilza, que elas são feias e fedorentas, mas que era disso que ele gostava!

Felipe, se dando conta da situação, sorri de soslaio e diz que volta mais tarde para eles irem ao teatro; porque naquele estado de nervosismo dela, ele não ia ter paz. Clara, aproveitando-se do vocabulário usado, retruca, então para que ele a deixasse em paz. E acrescentou: “Não volte aqui nunca mais!” O garoto foi embora, não ligou, nem voltou a aparecer na casa de Clara por todo o final de semana. O peito de Clara parecia que ia explodir de saudade. Um lado dela exclamava que ela havia desejado tudo aquilo, sem ele na sua vida, ela teria paz; prosseguia informando-lhe que ele era um cafajeste e que ela não queria um cafajeste ao seu lado, que, com certeza lhe trairia a qualquer momento. O outro, (o diabo, com certeza!), respondia – “Você quer voltar aquela pasmaceira de vida, sem emoção! Com Felipe é um novo frisson a cada dia!. Quando foi a última vez que você se apaixonou, quando você tinha 15 anos?! E nem foi correspondida!” Confusa e quase surda de ouvir seus dois lados dialogarem as gritos, Clara resolveu ir ao cinema, para se calar, definitivamente. Escolheu um filme de amor, onde os personagens ficavam juntos no final. Clara levou 15 minutos para sair do cinema, estava aos prantos, desejando que Leonardo de Caprio (Felipe) também a escolhesse e se declarasse para ela!

Segunda-feira, ela nervosa, contendo-se ao máximo para não demonstrar ao Felipe que estava puta, como é que ele teve a cara de pau de não me ligar durante todo o final de semana? – pensava ela com o peito apertado. Deve ter encontrado uma puta. Ai, meu Deus, será que ele encontrou uma namorada?! Em 25 anos, eu só encontrei 2 namorados, como é que ele num final de semana, já encontrou uma nova companheira?! – seus pensamentos fluíam aos saltos, no mesmo ritmo do seu coração Dia corrido, muita coisa a se fazer e Clara aliviada. Até que às 11: 50, vem o Felipe, “vamos?!” “Pro inferno ou pro motel?” - pensa Clara. Mas, ela limita-se a suspender os olhos, não queria que Felipe lesse sua mente, como ele fazia, às vezes. Ele insiste, “vamos almoçar!” Ela responde, sem olhar pra ele – “Estou ocupada, almoço mais tarde” e o Felipe, “tá bom, eu espero você”. A Clara, quase em desespero, “não, vai almoçar, quero almoçar sozinha” - ainda sem conseguir encará-lo de frente. O Felipe vai para o almoço, a Clara, uma hora depois, já com o estômago doendo de fome e nada do Felipe voltar, acreditando que ele já tinha descolado alguém para levar para casa mais tarde, vai almoçar, preparando-se para vê-lo na maior e melhor cena de amor que já havia visto. Ela chega no refeitório, faz o prato, vê onde o menino está e vai na direção oposta. Começa a almoçar de cabeça baixa, suspende o olhar, percebe que ao lado dele só havia homens e começa a comer aliviada. Quando ergue os olhos novamente, não mais o vê, acredita que ele foi embora, quando, por trás dela, alguém a enlaça, abocanha com seu garfo sua couve-flor e diz ao seu ouvido, “uma delícia, né?!” Clara, revoltada com a situação, já que todo mundo no escritório achava que ela era uma otária, porque todos os almoços, Felipe comia com ela, com o garfo dela, no prato dela, mas nunca comia ela! Responde, em alto e bom som: “seu horário de almoço já acabou! E eu gostaria de comer tudo o que coloquei no meu prato”. Felipe levanta-se, pega um guardanapo e volta à mesa. Fica lá olhando para Clara. “Você não acha que almoçar com alguém lhe fitando é muito desconfortável? “ – dispara Clara esforçando-se para comer, sem deixar cair nada na roupa, nem no prato, ou seja, quase sem comer direito, para parecer bonita enquanto o fazia. Felipe, sem deixar de fitá-la, responde, “eu não, eu me sinto tão confortável com você, como se pudesse ser eu mesmo...”. “Que sorte, pensou Clara, porque eu acho que tenho que ser a Miss Brasil e Miss Burra, pra você me levar para cama!”. E o rapaz continua, “você veio de carro?” Clara retruca que teve que colocar o carro na oficina e continua a falar a respeito. Acaba seu almoço quase que duas horas depois, já conversava com Felipe, como se não estivesse brava, ainda estava, mas pelo menos, agora, estava mais relaxada. Ele tinha razão, ela se sentia confortável com ele. Mas, por que, então, ele não fazia nada para transformar aquilo numa relação séria?!

Fim do expediente. Felipe chega na mesa de Clara e atira: “Vamos?” “Pra onde, Felipe?” – questiona Clara. “Para casa!” – Felipe responde como se fosse óbvio. “Eu vou com a Amélia, ela mora pertinho de mim.” – diz Clara, tentando fugir. Felipe, questiona, “mas não te falei que íamos juntos no almoço. Eu também sou seu vizinho!” E antes que a menina o convencesse que Amélia ia ficar ofendida, ele grita, “Amélia, pode deixar que levo a Clara”. Amélia, que era doida pelo Felipe, resolveu que amanhã viria sem carro e pegaria carona com ele!

E foram para casa. Felipe pára num bar, para que eles pudessem conversar. Clara, como toda a namorada insatisfeita, começa a discutir a relação. Felipe sorri, diz que compreende, mas que Clara não podia cobrar dele fidelidade já que eles não estavam namorando e não haviam sequer ficado. O tempo de Clara fechou-se. Virou o copo de chopp só de tristeza, viu o mundo rodar e sorriu. Levantou da mesa, ainda um pouco tonta e disse, “vamos embora, estou cansada”. Felipe pagou a conta e percebendo que a menina estava em estado alterado, levou-a para sua casa. E ela dormiu lá, só dormiu. Acordou no dia seguinte, lembrou-se de tudo, viu Felipe ao seu lado, deu um pulo da cama e quando ficou de pé, foi puxada de volta para cama. “Onde você pensa que vai?” – questionou o rapaz. “Para casa” – afirmou a menina. E puxando-a um pouco mais para perto de si, Felipe disse: “Passamos lá, pegamos umas roupas e a gente vai pro trabalho”. Clara, que sentia o órgão quente e latejante do menino no seu quadril, ficou excitada na hora. Desvencilhou-se dos braços dele e foi ao banheiro. Bateu uma punheta e saiu com os cabelos lavados. Felipe, percebendo o jeito da menina, ao vê-la saindo de toalha tem uma nova ereção e, sarcástico, injeta – “demorou no banho! Quase que eu entro...”

Foram trabalhar, Clara, só sorrisos. Num bom humor. Se, só de ter dormido com ele, ela já estava assim, imagina o resto! Almoçaram juntos e à noite, Felipe, ao invés de levá-la para casa, levou-a ao mercado. Comprou queijo, vinho, patê e torradas. Chegando em casa, acendeu velas e abriu o vinho, enquanto Clara cortava o queijo. Ele colocou Chico Buarque no som – cantor preferido da Clara – e propôs um brinde ao encontro dos dois. Clara tomou dois goles de vinho, com Felipe beijando seu pescoço e foi só o que a menina agüentou! Transaram até o sol raiar. Felipe era tudo o que prometia e ainda mais!

Chegaram os dois de cabelos lavados no trabalho, felizes, sob os olhos invejosos de Dóris, Nilza e Amélia. E a semana seguiu assim, Clara nem sequer voltava para casa, ficava todas as noites com Felipe a ver estrelas. Entretanto, na sexta-feira, na saída do pessoal para o bar da esquina, Felipe ficou com a Amélia, bem embaixo da fuça da Clara. Confusa e triste, ela pegou um táxi para casa. Viu as três ligações em seu celular do Felipe, não atendeu nenhuma, mas leu sua mensagem, que dizia, “era pra você ter ido para casa comigo!”

No sábado, saiu com as meninas para um bar. Desabafou tudo, em detalhes, parecia, que quanto mais contava, mais sofria, mais sentia-se idiota. Suas amigas foram evadindo-se, uma a uma, não é todo mundo que tem paciência para aqueles que sofrem de dor de cotovelo. Ao final de duas horas, só restava a Amanda. As duas já alegres, inventando xingamentos para o Felipe, foram abordadas por dois rapazes. Um, moreno alto, bonito e sensual, outro, loiro, alto, bonito e sensual. Conversaram por mais três horas, trocaram telefones e ambos telefonaram no dia seguinte. Foram ver um show no parque e o show virou almoço, que, por sua vez, virou jantar. Felipe havia telefonado uma vez e Clara achou melhor desligar o celular e começar algo novo, mais saudável. Ao chegar em casa, deparou-se com o Felipe. Ele havia passado a tarde com a sua mãe, consertando toda sorte de coisas na casa. A mãe enfurecida com a indelicadeza, esbravejou que a menina havia chegado muito tarde e que o Felipe havia esperado por ela a tarde inteira...Clara achando pouco, retrucou, “Ele não me avisou que vinha!” Felipe, demonstrando insegurança pela primeira vez, questionou: “Por que você desligou o celular?” – Clara, vitoriosa: “acabou a bateria!” Agora, se vocês me dão licença, eu vou dormir, já são onze horas e eu tenho que acordar cedo para trabalhar amanhã. Felipe oferece a carona e Clara com meio sorriso lhe informa que o João a pegaria. A mãe em sobressalto acreditando que a filha de santa, virou galinha, antecipa a pergunta do Felipe. “Mas que João?” Clara, com a boca cheia, meu namorado. A mãe, “e o Felipe?!” “AH, mãe, o Felipe é um galinha!”. E o Felipe: “E eu o que?! Você arrumou um namorado em 2 dias?!” A Clara, cínica: “Foi! Por que?! Só você pode fazer sucesso na Bahia?!”

Clara que não estava lá muito a fim do João, mas que havia percebido que ele era um excelente trunfo para fazer o Felipe sofrer o que ela havia sofrido atende as ligações um pouco melosas do João, com o mesmo carinho, apesar de não senti-lo, só quando estava na frente do Felipe, quando o garoto não estava presente, era curta e grossa com o João.E a semana passou assim, convites por todos os lados, tanto do João, quanto do Felipe. De invisível, Clara pareceu ter ficado embaixo de um holofote! Recusava todos os do Felipe, que curiosamente, não havia ficado com ninguém do escritório naquela semana; “Haviam acabado as opções?” Aceitava apenas alguns poucos convites do João, para que o rapaz continuasse a lhe telefonar.

E assim passou o mês, até que o Felipe agarrou-a ali, na saída do banheiro mesmo, e os dois transaram loucamente, como só os que ardem de tesão fazem, no cubículo do banheiro, depois dentro do carro do Felipe, depois, na cama do Felipe, no chão do Felipe, na cozinha do Felipe, na varanda do Felipe, na piscina do prédio do Felipe. Ufa! Ao fim da maratona, Felipe indagou sobre sua relação com o João e Clara, ainda, levitando, respondeu, “não está tão bem, né; caso contrário não estaria aqui”. E a resposta foi suficiente para que o Felipe reiniciasse a maratona.

Clara percebeu seu erro no dia seguinte, na festa da Soraia. Felipe apareceu com uma mulher de parar o trânsito e ficou ali, na frente dela, para onde quer que ela olhasse, lá estava ele com a loiraça! E ela, que havia dispensado o João, na esperança de ficar com o Felipe! Que burra! No dia seguinte, o primeiro a aparecer foi o João, veio para terminar tudo. Já fazia três meses que estavam juntos e Clara não havia dado o menor sinal de interesse intelectual ou sexual por ele e ele queria mais do que aquilo. Só de ouvir suas palavras, Clara ficou com lágrimas nos olhos. Fechou a porta do quarto, beijou-o ternamente e o levou para cama. Lá fora não estouravam fogos de artifício, seu corpo não ardia de tesão, João não era um fenômeno na cama, mas a tratava com tanto carinho, com tanto desejo, a tratava como se fosse, ao mesmo tempo, uma boneca de porcelana e uma vadia. Felipe nunca a tratara como uma boneca, um saco de pancada, talvez, uma vadia, com certeza, mas com amor, nunca. Encantou-se por aquilo tudo, por aquele homem muito mais bonito, mais charmoso que o Felipe. Como não houvera percebido isto antes?! E entregou-se a ele sem barreiras, gozou assim também, ali mesmo na sua própria cama, com sua mãe na sala. Escondeu o João embaixo do seu lençol quando a mãe bateu na porta para saber o que havia acontecido com a menina para dar aqueles gritos, mas ela só sorria, desculpou-se com a mãe, disse que tomou um susto e que não era nada. Despediu-se do João sob a promessa de irem mais tarde ao cinema.

Na hora do cinema, chegou o Felipe. João não entendeu nada quando ao pegar a namorada, encontrou com o Felipe na sala, tomando coca cola e discutindo com a menina. O tom da discussão soou estranho para o João, que percebeu que havia algo ali. Confrontou Clara e ela sem saber porquê não conseguiu mentir. Disse que era apaixonada pelo Felipe, que eles tinham uma relação mal resolvida, mas que ele hoje, havia despertado nela algo maior e muito melhor que aquilo que ela sentia pelo Felipe. João se sentiu traído, saiu batendo a porta e não voltou mais, nem sequer atendeu os telefonemas ou e-mails de Clara. Felipe foi consolá-la, acabou consolando-a na sua cama. Quando Clara já voltava a ter recaídas pelo Felipe, encontrou um recadinho na geladeira de mais uma mulher do escritório, dizendo que a noite anterior havia sido inesquecível. Caiu em si. Havia trocado o amor pela paixão e estava caindo do terceiro andar e como aquilo doía. No caminho para casa, resolveu procurar João. Havia se passado um mês desde que terminaram, entretanto, só naquele dia, naquele momento Clara se deu conta de que não sabia nada sobre o João; seu endereço, seus amigos; os locais que freqüentava. Estava certa que ele já havia comentado sobre tudo isto com ela, mas como, na época, não nutria interesse pelo garoto, não prestou muita atenção. Hoje, vagando, desnorteada, desejava que sua memória lhe provesse pistas sobre tudo aquilo que já havia escutado. Mas sua memória não lhe dizia nada. Questionava-se ainda porque desejava tanto encontrar o João. Afinal sua relação só havia durado noventa dias. Começou a percorrer todos os locais onde já haviam estado juntos. Deu sorte, quando chegou ao bar onde se conheceram, encontrou o João com um amigo, lendo um bilhete. Quem havia lhe mandado aquele bilhete? Uma putinha, com certeza, quem manda bilhete para o namorado alheio é putinha! – inervou-se Clara em pensamento, quando se deparou com a cena

Olhou nos olhos do João, mal conseguia respirar. Disse, apenas, o que conseguiu, sem pensar, e suas palavras vieram entre lágrimas tão inesperadas, quanto a sua reação, “volta para mim, não quero mais ficar sem você.” João surpreso e sem fazer o que fazer, abraçou-a. Disse que ela ia ficar bem, levou-a para praia. Sentaram-se na areia. João falou que achava que ela era mais feliz com o outro cara, que ele não admitia traição e que a relação deles havia passado. Clara, que sempre tivera o domínio das palavras, naquele momento, ouvindo o João, não conseguia dominar sequer a si mesma. Dizia coisas desconexas, mas repetia, constantemente, ”quero ficar com você, só com você, demorei pra perceber...” João, mais por compaixão que por amor, disse que eles podiam tentar recomeçar do zero, como amigos e se daí surgisse algo, eles podiam seguir em frente, se ambos concordassem.

Quando chegou em casa, Clara rezou baixinho, para que João se casasse com ela! Foram levando a relação assim, aos poucos, cada dia com João era uma nova descoberta. O tempo ia passando e ela ia ligando cada vez menos para o Felipe, que investia cada vez mais nela, só que, agora, não surtia mais o efeito devastador de antes. Clara estava decidida a não mais trair o João. Depois de seis meses assumiram o namoro. As investidas do Felipe continuavam, porém, tornaram-se mais esparsas. Quando completaram um ano de namoro, João pediu sua mão em casamento para sua mãe. Dona Sônia não pode conter as lágrimas, sua filha não seria mais uma solteirona! O Felipe soube do casamento, mas não foi convidado. Ele, que já havia comido o escritório inteiro, já morava com uma das mulheres do escritório, ao saber do fato, ficou possesso. Foi para casa de Clara, disse que nunca havia amado ninguém como ela, que era fácil e difícil ao mesmo tempo e que lhe trazia paz, ainda pediu para que não se casasse. O João chegou quando o Felipe dizia que ela era a mulher da vida dele. O João esperou a reação da mulher, quando a viu sorrir, já ia retirar-se e cancelar tudo, quando percebeu o sorriso de Clara virar uma gargalhada. A língua ferina da sua noiva atingiu Felipe em cheio, quase o partindo ao meio: “Você precisa de tratamento psicológico, meu querido! Você não ama ninguém, só a você mesmo! Você está casado com alguém, separe-se! Porque ela, com certeza, merece algo melhor! - gargalhando – me ama, ama a puta que te pariu, se é que você a ama, quer casar comigo?! Quer?! Case com meu peido, que ele ainda fede menos que você e saiu, peidando da sala para o quarto. Quando Felipe ia atrás da menina, João o colocou para fora aos murros e pontapés.

O casamento de Clara e João aconteceu no dia 20 de março. A cerimônia foi como ela sempre quis, curta e simples. A festa foi de arromba! Os convidados diziam que nunca viram um casal tão feliz e que se amavam simples e explicitamente. Dez anos depois, Clara e seus dois filhos passeavam pela orla. Ela viu Felipe sair do mar com sua prancha. Lembrou-se da primeira vez que o viu, de como se sentiu e sorriu. Seu casamento com o João não era um conto de fadas, mas dez anos depois ainda era feliz, tão feliz, quando da data em que se casou. Mas ver Felipe quinze quilos mais gordo e cheio de banhas a fez sentir-se linda! Soltou uma gargalhada. Seus filhos assustaram-se. Questionaram o que fazia a mãe sorrir. Ela respondeu: “A vida, meus amores, a vida me fez ver que sou feliz!”

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ctrl C, ctrl V


Sinto que minha vida ainda não está do jeito que quero e os dias parecerem uma repetição sem fim. Me falta prazer e entusismo para seguir. Não tenho mais aquela "liberdade" para abandonar as coisas que já não me interessam. O trabalho suado, desgastante e chato, o salário curto e rápido sempre acaba antes, enquanto o dia, sempre acaba depois. As queixas viraram óbvias e foram deixadas para depois. E assim sigo, num ctrl C, ctrl V, copiando, repetindo, apesar de tantas mudanças.

Já ouvi diversas vezes que um dia não é igual ao outro já tive provas concretas disto, mas, ainda assim...ctrl C, ctrl V

Hoje, pensei em voltar a dançar, mas estou sem dinheiro, ctrl C, ctrl V

Hj vou me mudar, ctrl C, ctrl V

Até que um dia as coisas chegam e a revolução levanta as folhas e as mil cópias, mas até lá ctrl C, ctrl V.