quarta-feira, 9 de março de 2011

Muitos Carnavais



Ah, o carnaval! Já fui tantas vezes, já pulei atrás de muitos trios, já tomei muita cerveja, cheirei lança – foi inclusive no carnaval que ela me foi apresentada, num murro na minha boca, seguido de um beijo e uma ordem, aspire. Aí, veio uma sirene muito alta que saía de dentro da minha cabeça, uma tontura, mesclada com euforia, a música, qualquer fosse, parecia maravilhosa, novo beijo e mais carnaval. E carnaval, para mim, tinha que ser com muita cerveja, assim, dopada, não via as brigas, os roubos, as milhares de infrações de leis de direitos humanos, cometidos por todos os camarotes, blocos, cidadãos mais abastados, pelos menos abastados, pela polícia... Embebida em álcool, a festa parecia supimpa! As milhares de mãos, que insistiam em me apalpar, puxar, roubar beijo, me derrubar no chão, me imobilizar, me forçar um beijo e me dar a mão para levantar, tudo bobagem, eu não sentia nada! Não que eu fosse um sucesso no carnaval, mas que sempre estava tão bêbada que, notoriamente, parecia ser um alvo fácil. Sóbria mesmo, só babei nos filhos de Gandhi, quando o bloco ainda era composto apenas por negros altos, fortes, lindos, que espirravam água de cheiro no nosso corpo, protegiam as desamparadas e se despediam com um beijo mais terno que sexual. Memórias boas também, quando Carlinhos Brown inventou um corre todo mundo para trás e depois corre todo mundo para frente, quando vi uma senhora bem larga, cair no chão e derramar milhares de latinhas no chão, pedi a Deus para conseguir ajudá-la, mas quando vi, uma roda enorme de pipoqueiros já havia sido aberta para resgatar todas as latinhas da senhora e devolvê-las para o seu gigantesco saco. O mesmo quando perdi e achei minha lente de contato! (quer dizer, acharam. Eu, embriagada, lógico, coloquei a lente na boca e de lá no olho, ganhei uma infecção ocular pós carnaval, mas não fiquei gripada risos). Me apaixonei, pelo menos três vezes durante o carnaval, mas nunca surgiram namoros destes amores carnavalescos, só ficadas mais cumpridas. Mas, hoje, ouvindo e vendo as pessoas passando bem embaixo da minha janela, o cheiro de mijo mesclado com cerveja e suór, o enorme montante de gente que passa com camisas de blocos, camarotes, sem camisa, às vezes, até sem roupa! me dão um desânimo. Acho que nem mesmo bebássa me divertiria. Talvez, tome coragem e vá na rua, pipocar. Mas, por enquanto, vou ficando alcoolizada em casa mesmo e indo dormir. Descobri a fórmula perfeita para dormir bem, com o barulho infernal que insiste em invadir minha casa. Duas latas de cerveja e aí, nossa, durmo tão bem, que esqueço tudo, não escuto nada. Então, escrevendo isto, meu rosto esboça um sorriso. Foram muitas as minhas mudanças ao longo dos carnavais (foram muitas, também, as mudanças do carnaval, na forma, na quantidade de gente etc), mas, quando fico em Salvador, morando na Barra, a única coisa que não parece ter mudado, é o fato de passar todos os carnavais, bebássa! (gargalhadas). Saudades imensas de todos aqueles que participaram comigo das milhares de aventuras carnavalescas, Malara, Violet, Iara, Raquel, Mylena, Majó, Dan, Anaê, e tantos outros, memórias de outros tempos, outra vida. E daqueles, que com certeza, dividiram um cigarro comigo, neste momento casulo como Cris e Lua. A todos, vai meu desejo sincero de bom carnaval. Mas, agora, tenho que ir, estão batendo na minha porta. Mais uma vez, lá vou eu, pipocar. Só pra garantir, vou pegar uma piriguete* kkkkkkkk



* Piriguete, nome dado as mulheres mais fáceis, que todo mundo passa a mão. Os baianos, eita povo criativo, não só lançaram este nome no mercado de relacionamentos, como batizaram a cerveja Skol de 250 ml, pequeninha e mais barata com o mesmo nome. Segundo descobri, todo mundo prefere a piriguete, é chegar, passar a mão e levar, e ainda garantir pagar menos por isso!