quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sogras



Ano atribulado, onde a rotina anestesiante roubou o lugar do bem estar e abriu alas para a falta de qualidade de vida. Eis, que estou eu às voltas em como mudar, a que dar prioridade e foi justo aí, no final de dezembro que ela chegou, loira, de camiseta colada e mini saia, chamando Marcos de filhinho da mamãe, perguntando se ele queria comidinha, que lavasse a roupa dele, cortasse suas unhas... E eu, pensando, "essa velha tem que ir embora imediatamente". Anos de terapia para não infantilizar meu respectivo, para não me tornar sua mãe e, sim, sua esposa e chega a velha para colocar a casa abaixo. Passei a primeira semana, só de olho, observando e pensando comigo que não tinha que ser boazina com ela, nem ficar ouvindo como era boa a ex de Marcos. Na segunda semana - É! porque o filhinho da mamãe a convidou para ficar um mês, enquanto ele ficava trabalhando, eu ficava tarde e noite em casa, porque só trabalho pelas manhãs agora... - chegava morta (com o cansaço do ano inteiro acumulado) e lá vem as filhas dele. Eu, a sogra e as filhas em casa e ele, trabalhando. E eu, só na terapia me convencendo que não era mãe, nem babá de ninguém! Faço um almoço para meus pais e ela diz que minha mãe era visita e eu respondi: " não, ela não é visita, ela é minha mãe!" - Fiquei coçando para não dizer que ELA era a visita... apesar de ter passado a manhã na cozinha. Aí, na terceira semana entreguei os pontos, já estava achando ela ótima! Ela limpa, cozinha, cuida das crianças, dos gatos, da planta. Parou de falar da ex, após certos comentários pouco doces meus... Meu Deus, cheguei a conclusão que essa mulher é uma mão na roda e me dei conta que ela se faz útil, necessária, para se fazer bem quista, para se fazer amada. E logra! Aí, foi que vi que Salvador foi assaltada por uma chuva de sogras (ou será que elas já estavam lá?!), no mercado, todas de mini blusa, mini saia, shortinho (mini tudo! Mas saltos enoooorrmes!) , com corpos sarados (às vezes gordinhas, baixainhas, com um sorrizinho, mas não se enganem, não me engano!), caras de mandonas, donas do lar, dos maridos, dos filhos, das empregadas, de suas bolsas enormes que não largam para nada, esgotadas, já não sorriem facilmente, são o retrato de uma vida suspensa - carregada - de responsabilidades e elas dão conta de tudo, até de pagar pelas benditas plásticas. As sogras do ano 2000 são assim, modernas, mas tão ditadoras e tão controladas e controladoras como eram minhas avós...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

4 Paradas



Peguei um ônibus da Barra em direção ao Campo Grande, bem cedinho, às 07. Quando entrei no ônibus, me deparei com vários homens sentados em bancos próximos, porém distintos. Um todo de vermelho (claro que as estampas não combinavam, mas para ele estava ótimo), outro todo de preto, outro de verde e azul. O rapaz todo de preto, ligou a música do seu celular e o ônibus todo começou a escutar música sertaneja. Na primeira parada, entrou uma senhora, não falava muito alto, mas começou a chorar, contou que havia perdido o marido e o filho num acidente, que havia ficado na miséria junto com a nora e que resolveu pedir no ônibus, por mais que aquilo lhe causasse vergonha, porque sempre fora dona de casa, nunca havia trabalhado,mas não agüentou ver seu neto desmaiar de fome. O choro da senhora comoveu a todos e o homem de preto, gritou de lá:? “toma aí, senhora, não precisa chorar!” E cada um dos homens coloridos foram tirando as “nicas” do bolso e dando para a velha. Na segunda parada, a velha desceu, os homens se reuniram e começaram a falar da velha, o de vermelho alfineta: “pra menino, eu não dou, mas para uma velha chorarando assim, ou vai para Globo ou tá passando necessidade mesmo!” (vocês acreditam que a velha faz isto há anos! Tem que ir para Globo!), ao passar por uma construção, comentaram: “voar baixo não é para mim, não, só gosto das alturas, dos prediões!”. Os outros concordaram e desceram no terceiro ponto, em frente a uma construção. O quarto nem era ponto, mas o motorista parou para pegar um mingau com uma senhora baixiiiiiinha, gordiiiinha, destas bem rechonchudas! Quando a moça olhou para ele, ele gritou de cá: “ quase que não parava aqui hoje!”. E a outra: “Por que, meu bem?”. O homem grande, gordo e risonho, sem perder o sorriso, “pelas coisas que você falou...”. E ela: “que coisas?”. Ele: “c sabe!”. Pra terminar a conversa com chave de ouro, depois do namoro público: “pois hoje eu volto contigo, meu bem, para você me contar tudo no ouvidinho!”. Depois desta, tive que descer no ponto! Que pena! RS

Absurdos Americanos



Foi com grande choque que ouvi a notícia (é! Eles tiveram coragem de anunciar isto) de um grande feito americano. Agora eles estão próximos de descobrir a cura da AIDS, que quase 20 anos depois de ter sido descoberta ainda não tem cura. Não querendo contaminar a própria população, os espertos americanos foram para a Tailândia, como poderiam ter vindo para o Brasil. Ofereceram dinheiro vivo e rápido para o contigente populacional sedento de comida e de uma alternativa de subsistência e infectaram uma percentagem (não mínima e que, nem de longe pode ser desconsiderada) da população, injetando vacinas que já não haviam funcionado antes, só que desta vez combinadas. O resultado? 30% da população infectada, e nem sinal de cura, apesar do criminoso cientista mostrar-se feliz por estarem mais próximos agora de, finalmente, encontrar uma cura. As opções americanas começam a se esgotar. Tailândia, down; Africa, down, Índia, down, Brasil,???? Eles já tomaram a Amazônia (os soldados já estão lá, com suas bandeiras fincadas no solo brasileiro – o que é para eles significa território já conquistado!), já invadiram cada um dos estados brasileiros com suas Mc Donald´s, Subways, Fords etc. Creio que o plano deixou de ser conquistar o mundo e tornou-se destruir o mundo, para re-construí-lo só com americanos. O bom é que gananciosos como são, acabarão por destruir-se uns aos outros. Ops, mas isto já está acontecendo?!...

domingo, 20 de setembro de 2009

Partes esquecidas da cidade, partes esquecidas de mim


Caminhava outro dia pelo centro da cidade. Gosto de andar de ônibus às vezes, creio que é uma boa maneira de ver as coisas de uma outra forma e não passar pelas pessoas, se encontrar com elas! Fui fazer uma prova em Nazaré e caminhando por ali, decidi pegar um ônibus, descer no Campo Grande e ir andando para casa. Nossa, como fazia tempo que não passava por ali, era quase como se aquela parte da cidade não mais existisse no meu mapa da cidade, era como se ela estivesse morta. Foi neste instante que uma idéia me assaltou, era assim também com meu corpo, havia partes em mim, que de tanto não ir, acabei por esquecer. Sei que ela existe, mas já não passeio por ali... Re-visitar o conhecido é quase ver o velho com outros olhos, com novos olhos. E, foi pensando nisto que me senti invadida por uma alegria, que só quem viveu o re-encontro de um velho conhecido que lhe trás boas memórias, pode sentir. E hoje, apesar de sentir uma vontade grande, deixarei o texto assim mesmo, sem estar realmente terminado, porque creio que as explorações de nós mesmos, das cidades, dos tesouros, dos fósseis, sejam mesmo assim, sem fim.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Descobrindo meu valor (porque concordo com Cris :)


Depois de anos passeando entre experiências, profissões e diferentes carreiras, acabei parando no inglês. O ccaa foi a única cia em que me mantive por anos, mas ontem, comecei a me questionar por quê? Recebo salários advindos dos cheques dos alunos, que chegam sem fundo, borrachudos etc, minhas horas extras não remuneradas são longas e cansativas e, segundo eles, obrigatórias. Corro de um lado para o outro, me esforço para ser boa, para dar uma boa aula, para não deixar o aluno na mão, já ouvi que sou uma professora que consegue manter os alunos na casa e por isto sou privilegiada com mais turmas, aí vem mais controvérsias... Me demitem, para não ter que pagar os impostos que a empresa deve ao governo, fico sem carteira assinada por todo o primeiro semestre, fico na rua da amargura em julho, sem receber um puto, porque os outros professores que acabaram de começar, mas que, rapidamente, caíram nas graças da diretora, foram privilegiados e estes mesmos professores têm o mesmo número de turmas que eu, que sou privilegiada... Depois de julho, fiquei desesperada, peguei 9 turmas e corro entre a Paralela e Itapuã, para no fial do mês ganhar R$700,00. Ontem, caiu sobre a minha cabeça um grande sino que não pára de estalar me dizendo que sou desvalorizada, que não desejo continuar e que esta escolha em ser desvalorizada foi minha, que me mantive nesta posição e hoje digo NÃ O. Ouvi ontem de Cris, que quando tem que ser, as coisas acontecem, basta a gente confiar. Acho que não estou confiando tanto assim em mim, porque se este fosse o caso a antiginástica já estaria acontecendo, como estou vendo acontecer com algumas colegas que nem eram da área... Ontem, tive uma luz, um raio, que me partiu ao meio, me dizendo que agora é a minha vez e que eu era mais desvalorizada que livros, cds, perfumes, todos eram mais caros que eu, em resumo, eu estou sem valor, para mim e para o outro e que esta é uma posição que já não desejo mais ( não desejo isto nem ao meu pior inimigo...) Chegou a hora de me dar valor!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Como nossos pais


Engraçado como mesmo sabendo que o que se aprendeu será repetido, ainda assim, não parecemos ter armas suficiente par lutar contra os fatos e para descobrir o novo, a fórmula acaba sendo repetida e repassada pelas gerações afora. Mesmo com muita psicologia, com muito tato, parece inato, quando nos damos conta, já fizemos. Pesquisando memórias, suas formações e seus aprendizados, descobri que para alterar um aprendizado é necessário que outro seja construído e que só quando está firme o suficiente é que ele tem capacidade de suplantar o velho. Entretato, enquanto isto não ocorre, vamos sendo como nossos pais, não importa o quanto tenhamos tentado fugir do padrão quando éramos mais jovens... Como diria Belchior:" Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmo e vivemos como nossos pais...".

quinta-feira, 16 de julho de 2009

My so called life


Quando eu era mais nova, eu assistia a uma série televisiva chamada “My So Called Life”, esta série me marcou tanto que anos depois do seu término (que ocorreu muito cedo na minha opinião) eu ainda buscava formas de comprá-la em VHS. Mas, graças a internet, eu consegui baixá-la e resolvi assisti-la novamente. Incrível como esta série me toca, por razões diferentes hoje que no passado. Hoje, depois de encontrar uma amiga, com quem já tive muitos altos e baixos e poder dizer para ela tudo o que jamais achei que pudesse, sem a intenção de magoar, mas de deixar clara as minhas ações, pensamentos e sentimentos, fiquei pensando nas relações humanas, nas minhas relações, como as construo, como elas mudam e peguei da série, algo que resume, tudo: “ There are so many different ways to be connected to people. There are the people you feel this unspoken connection to, even knowing there isn´t a word for it. There are the people whom you´ve known forever who know you in this way that other people can´t, because they´ve seen you change. They let you change.” And I guess this is all part of my so called life…

terça-feira, 14 de julho de 2009

Vizinhos


Se é o da frente, pára na minha garagem, não quer tirar o carro e ainda acha que está no direito de gritar comigo... Tomou um escândalo na cara. Se é o de baixo, vem com cinismo me dizer que eu não estava disposta a consertar meu encanamento que vazava no Ap. dele, por pura mal criação. Veja só, se eu que fui mal criada! E depois, quando entrei na casa dele, porque a porta estava aberta, depois de ter batido três vezes, pedido licença, até que perdi a paciência e resolvi entrar na casa e tirar as fotos do conserto, porque não se pode confiar em pessoas cínicas, já diria minha amiga psicanalista. Aí, vem a esposa dele me perguntar quem me autorizou a entrar. Pode?! Bom saber do tipo que mora embaixo de mim porque comecei a batucar às sete da manhã, porque desperto de bom humor e espero que eles também! Se é o de cima, vem me dizer que não vai consertar o encanamento que está vazamento no meu teto de gesso, porque consertou o encanamento do andar de cima. Agora me diga, o que eu tenho haver com isto?! Já mostrei tudo para as pessoas que estão trabalhando na casa dele, já mandei as fotos dos canos furados para ele e nada. Falei com o síndico e se isto também não der em nada, vou ser obrigada a ter mais um processo judicial nas costas e vou aproveitar para usar os R$200,00 que este zinho veio me oferecer para trocar todo o encanamento e a mão-de-obra... Vizinhos, bah! É melhor não tê-los, não falo com nenhum deles mesmo desde que cheguei no prédio e quando falei, foi pelas razões expostas acima. Vá pra porra, viu! A pessoa vai morar na Barra, achando que vai encontrar finesse. Já vi que educação é coisa rara e limite é algo que deve se proliferar e ficar escancarado na janela, na porta, na grade, feito cão de guarda. E nem chego perto, porque,a partir de agora, eu mordo!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Contando estórias


Tudo começou quando ainda menina, sentava, atenta, no chão para ouvir as estórias de meu pai. Mais tarde, eram as estórias da minha irmã, que se misturavam as estórias de Ziraldo, Jorge Amado, Clarice Linspector e tantos outros autores. Quando completei 31 anos, ganhei um livro de estórias, chamado Mulheres que correm com os lobos. E, neste mesmo ano, vieram para Bahia os Tapetes Contadores de Histórias com suas técnicas de contação (as estórias eram tão mágicas, que decidi participar do curso). Nunca achei que fosse boa contadora, inclusive porque não sei o que fazer quando olho em volto e vejo olhos atentos em mim, mas, resolvi arriscar. A primeira vez, foi num rompante, numa mistura de revolta e medo, lá mesmo com os tapetes, a segunda, foi para meus alunos e os alunos dos outros grupos, a terceira foi do mesmo jeito e, assim, foi a quarta e a quinta. Nunca me sinto confortável, sempre fico gelada, com o coração aos pulos, mas sempre acabo sendo convidada a contar uma estória e sempre acabao fazendo. Percebi que as crianças aprendem mais quando a aula é uma estória e qua alguns adultos também, sei que eu aprendo mais quando é uma estória e, logo escuto na cabeça, um mote do Castelo Ra tim bum: "senta que lá vem história!" E vou seguindo, contando estórias por aí...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Aonde está o dinheiro?


Hoje, que vivo numa vida mais que apertada, longe do ideal de conforto que gostaria; com dores de cabeça e falta de ar que tornam-se constantes cada vez que chego no banco para pagar as contas e minha conta, só de me ver, já fica vermelha... Fico pensando quando é que poderei me dar ao luxo de respirar aliviada e poder realmente fazer pequenas coisas que gosto e que não custam assim tão caro, mas que custam dinheiro, tipo, tomar um vinho com as amigas, dar entrada num veículo, ter filhos... sem ter que ficar com o peso da responsabilidade, de estar optando por um prazer que irá me deixar no desprazer mais tarde... (o que, claro, me faz desistir de concretizar cada uma destas idéias!) Penso que a relação com o dinheiro é parecida com a relação com os homens. Quando você tem você fica ótima, não se preocupa muito com os excessos, quando não se tem você fica obcecada, querendo conquistar algo rápido! Já tentei me tranquilizar várias vezes, dizendo para mim mesma, que o dinheiro (como o homem) viria e quanto mais me preocupasse com ele, mais ele tardaria em chegar. Mas, que ele vem, eu não tenho dúvida! Mas, quando minha conta me olha vermelhinha, não consigo fazer piada, nem achar graça disto, deixar a vida me levar (como no filme "Cristina quer casar", "Opaí, ó" , "Estranhos" e tantos outros brazucas que abordam o mesmo tema); aí tudo vai pro água abaixo, somatizo tudo e viro a chata, estressada, sabe, como aquelas matronas, que só criticam e reclamam?! Pois é, estou insatisfeita, sim! Minha relação com o dinheiro está muito mesquinha! Quero mais, para poder deixá-lo livre! Mas, pelo menos, por enquanto, só desejo que ele venha! Investi em tanta coisa (e ainda estou investindo), pensando (e com a esperança de) que, um dia, ele chegue, sorrindo faceiro, me fazendo esquecer que um dia já tive problemas...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Família


Engraçado como são diferentes as familias. Todo mundo exposto as mesmas ondas, mas cada um absorvendo de uma maneira muito diferente. Como diria o filósofo, cada cabeça um mundo! (quem disse isto foi um filósofo mesmo? Se não, era, deveria ser...) Sempre vejo como meu querido amado, faz uma festa danada por ter descoberto algo novo, ou como dá ênfase a algo que descobriu com uma alegria contagiante, que realmente, incita a curiosidade. Fiquei pensando na minha família. Quando se vive numa casa onde todos querem mais. Você acha uma maçã e a reação é, encontrou a macieira? É como se houvesse uma cobrança de ser mais, de querer mais! Hoje já não sei se minha família é realmente assim ou se eu a signifiquei assim. Vindo de uma família de doutores, onde o erro, dá uma grande margem para ser motivo de chacotas e piadinhas, errar, é humano para os outros, porque, quando é você, é terrível! Aí, vi que não celebrava as descobertas, não incitava a curiosidade, porque, sinto como se tivesse a obrigação de ser melhor, de descobrir, de vencer, de chegar mais longe! Todos na minha casa foram aprovados no doutorado ou mestrado com honra ao mérito. E eu, feliz da vida com isto, escuto: é, nega, é melhor você correr, que você só tem o superior completo... Quem mandou perder tempo, fazendo tanta faculdade?" (Foram 3, na verdade, perdi tempo, realmente, mas será que perder tempo, existe mesmo, ou a gente vive o que tem que viver?! Sei, que agora, me esforço para celebrar os bons momentos, curtir o agora, com mais liberdade para errar, pois como cantou Oswaldo Montenegro, hoje é dia de celebrar!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Descobertas


Hoje observava um casal de adolescentes se beijando na porta da escola. Nossa! O rapaz caprichava no beijo, ia passeando com as mãos pelas curvas da mocinha, que ia esgueirando-se pelo pescoço dele. Olhei a cena e pensei que aquele momento era único, porque era aquilo que eles estavam descobrindo; e como curtiam a descoberta. Pensei em mim, na minha adolescente, em como era bom descobrir tudo aquilo, tão excitante! Pensei ainda, imagine, quando eles descobrirem o sexo! O mocinho, nitidamente, já estava louco para isto! A mocinha, estava testando o próprio poder de sedução... Ah! Que delícia! Olhava a cena e pensava, meu Deus, o papo, o comportamento, tudo gira em torno da atual relação ou da próxima. E hoje, aos trinta, não continua sendo a mesma coisa? Talvez as coisas não sejam assim tão novas, mas é uma novidade a cada parceiro! A expectativa, a necessidade de estar com alguém permeia todos em todas as idades. No aeroporto vi uma senhora de 50 mais ou menos, agarrar o namorado com um entusiamo juvenil! Aos 30 vejo minhas amigas entrarem em aventuras também adolescentes, com finais previsíveis, mas, apesar de tudo, vibrarem com isto. Então, o que muda com o tempo? Você vira adulta e muda o tipo de relação? Ganha mais proteções? Fica um pouco mais cética? Ou só repete os mesmos erros? Ouvi de alguém que o adulto que você é hoje é pautado na adolescente (e na criança) que você foi. Fato! (até um pouco óbvio, vamos combinar...) Mas com o passar do tempo, as coisas mudam muito! Achei que aos 30 já havia experimentado de tudo; o que deixaria pouco para a imaginação... Mas, aí, percebi que descobri algo inédito, descobri o amor e estou curtindo muito isto!

domingo, 10 de maio de 2009

Só se vê na Bahia







Aqui, bem na orla, no meio da Boca do rio, um grudadinho no outro, parede com parede: um restaurante, um strip tease club e uma Assembléia de Deus! Meu Deus, que combinação perfeita, eu pensei! Você janta, vai ver um strip e depois vai rezar para exorcizar os pecados. Ou, de repente, você exorciza os pecados, vai ver um strip e janta! Ou você vê um strip, exorciza os pecados e janta ou.... será que a ordem dos fatores alterará a soma? É! rs Tem coisas que a gente só vê na Bahia!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Este momento é o que me interessa




Lenine, no lançamento do seu último cd, disse que nunca teve tanta certeza do que queria, que havia chegado no ponto que vinha buscando já fazia um tempo. As lágrimas me saltaram ao olhos quando ouvi isto (que agora não é mais exatamente o que ouvi, é minha interpretação do que foi dito). Venho há tanto tempo dando passo trôpegos na direção do corpo, me perdendo, me achando, experimentando, descobrindo, re-descobrindo; mas hoje, me sinto mais sólida e foi por isto que decidi, finalmente (afinal são quase 10 anos desejando e tentando pegar a estrada, morta de medo, sem realmente encarar a estrada), colocar meu nome no site e começar a trabalhar como estagiária da antiginástica. A vida me empurrou para isto, porque mais uma vez eu estava me esquivando do caminho, que eu mesma escolhi e reclamei para mim. Minha psico me disse, que venho perseguindo há dez anos algo amorfo, que não conseguia compreender e que agora, ele tem um tamanho definido. Enfim, viva! Estou pronta! E espero que tudo dê certo.! Depois de ouvir relatos de amigas, que têm o mundo caindo em suas cabeças, comecei a questionar o que repito e a decisão está aqui, para quem quiser ler! O meus medos continuam aí, mas estão sendo contagiados pelo que acredito e, talvez, por isto, estejam me deixando ir. Então, termino com as palavras do Lenine (eita homem que se expressa bem!)

"Daqui Desse Momento
Do Meu Olhar Pra Fora
O Mundo É Só Miragem
A Sombra Do Futuro
A Sobra Do Passado
Assombram A Paisagem
Quem Vai Virar O Jogo
E Transformar A Perda
Em Nossa Recompensa
Quando Eu Olhar Pro Lado
Eu Quero Estar Cercado
Só De Quem Me Interessa
Às Vezes É O Instante
A Tarde Faz Silêncio
O Vento Sopra A Meu Favor
Às Vezes Eu Pressinto
E É Como Uma Saudade
De Um Tempo Que Ainda Não Passou
Me Traz O Seu Sossego
Atrasa O Meu Relógio
Acalma Minha Pressa
Me Dá Sua Palavra
Sussurra Em Meu Ouvido
Só O Que Me Interessa
A Lógica Do Vento
O Caos Do Pensamento
A Paz Na Solidão
A Órbita Do Tempo
A Pausa Do Retrato
A Voz Da Intuição
A Curva Do Universo
A Fórmula Do Acaso
O Alcance Da Promessa
O Salto Do Desejo
O Agora E O InfinitoSó O Que Me Interessa
"

(Lenine e Dudu Falcão)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A física no Templo


Hoje ouvia uma conversa entre duas senhoras no ônibus, sobre o Templo e já havia ouvido um pastor proclamar de coração aberto (era uma boa alma), que tinha dez reais no bolso, mas sentia que seu irmão precisava mais daqueles dez que ele. Deu, de coração aberto, porque sabia que viria mais para ele, que nada faltaria. A conversa das senhoras no ônibus girava em torno da transformação da "alma"do cidadão que havia se convertido, porque acreditava que poderia ser uma pessoa melhor. E eu, que sempre fui avessa a religião desde que saí da Sacramentinas, colégio de freiras rigorosas e fervorosas, onde os padres eram gays e rígidos, principalmente com as meninas, claro, que mostravam um Deus punitivo, cheio de sofrimento, que só carregava sua cruz pra onde quer que fosse. Da minha adolescência religiosa descobri que nós mesmos escolhemos nossas cruzes e a carregamos junto com nossa mala e nos sentimos pesados, sem termos a clarividência do que carregamos. Filosofia pura, que pode ser revelada e percebida na prática. Dos templos, descobri que usam um dos pilares da física quântica, onde simplistamente, levam o outro a crer que se desejam de coração, aquilo que é só energia, que não se materializou no plano ainda, seu desejo pode tornar-se algo concreto. A física quântica, troço difícil, complicado de entender num mundo tão cartesiano, virou filme, modismo e agora (ou desde a criação dos templos) religião. Bem, de uma forma ou de outra, o povo sempre sabe de todas as verdades, mesmo que não as compreenda conscientemente. E os "padres templários" por pura esperteza ou crença, apostaram no que ninguém via e acertaram na mega sena. Assim é que hoje, já tenho mais respeito por estes templos e fora a teatralidade da coisa, creio que visitarei um algum dia destes, para ver a física quântica pregada na prática...

terça-feira, 21 de abril de 2009

O Casamento de Clara


Este conto é dedicado a todas as minhas amigas, a uma em especial. Escrevi porque acredito que as mulheres iludem-se facilmente, principalmente quando há tesão no meio e os homens, aproveitam-se disto. Mas há aqueles, que desfrutam da gente inteira e que desejam estar com a gente até que a vida ou a morte nos separe. E são para eles que desejo que todas as minhas amigas migrem e dêem atenção.

Clara (suspiro)... era realmente clara, ela pensava e se olhava no espelho como se estivesse se vendo pela primeira vez. Não era tão bonita, podia ter menos quadril, ser mais magra. Mas, no geral, não era feia. E por que cargas d’água não havia encontrado seu príncipe encantado ainda? Ela nem sequer sabia se acreditava em príncipes encantados! Da sua realidade, a conclusão que podia tirar era que só existiam sapos. Abandonou seus pensamentos e resolveu ir a praia. Pensar na sua própria solidão só a deprimia mais, ainda mais agora, que todas as suas amigas estavam namorando. Passeava pela beira da praia, sentindo, com prazer, a brisa carregar seus cabelos e levantar sua canga. Quando olhou pro mar, conteve-se para não parar de caminhar. Ele era alto, branco, de cabelos bem negros, que lhe caíam em cachos ao redor da face. Seu corpo era bonito, mas não chegava a ser atlético, sua silhueta era muito agradável, apesar de não ser nenhum Rodrigo Santoro (o modelo de Clara de beleza masculina). Ele passou por ela e nem sequer a notou. Clara afundou-se em melancolia. Será que havia realmente tornado-se transparente? Ficou lá boiando no mar, com algumas lágrimas de tristeza lhe escorrendo entre as bochechas.

Na saída da praia encontrou umas conhecidas. Clara que falava pelos cotovelos, falou sobre coisas banais, por pelo menos, cinco minutos, e saiu feliz por ter se tornado visível para alguém, mesmo que fosse do mesmo sexo que o seu. No alto dos seus 25 anos, Clara já havia tido algumas experiências sexuais, nenhuma delas resultou em namoro sério, que dirá em casamento, mas este era um tema que Clara preferia não pensar, pois tinha medo de tornar-se solteirona como suas tias e como sua própria mãe. Bloqueou o pensamento, para não perceber que, de tanto medo, estava seguindo o mesmo caminho.

A segunda-feira havia chegado e Clara havia feito exatamente a mesma coisa que fazia todos os finais de semana. Leu revistas, o jornal do domingo, foi ao teatro e ao cinema, tomou um café na delicatessen com a mãe e hoje, como sempre, estava saindo com, pelo menos, dez minutos de atraso para o trabalho. Estava cansada daquela rotina, até o atraso era rotineiro Precisava de algo que a tirasse desta pasmaceira de maneira urgente! O que poderia fazer para mudar sua vida?!

Trabalhava numa empresa de propaganda. Quando entrou na Faculdade achava o máximo aquelas pessoas tão diferentes dela, todas estilosas e descoladas. Mas, lá só aprendeu mesmo a fumar maconha e beber. Como nunca sentiu nada daquilo que os outros sentiam com a erva, abandonou este hábito rapidinho. E a bebida, foi deixando para ocasiões sociais. Seus momentos de embriaguez foram tão embaraçosos, que ela gostaria de ter inventado uma pílula do esquecimento para fazer com que todos esquecessem os choros, as brigas e as coisas más que dizia aos outros. Quase não acreditou quando chegou no trabalho e viu o moreno que havia lhe arrebatado na praia sentado na mesa à frente da sua. Com a minha sorte, deve ser o namorado da Gabriela que veio pegá-la antes da sua partida para Espanha, pensou Clara. Mas o que é que há na Espanha, que tanta gente está indo pra lá?! Eu é que não vou, se fosse para Califórnia, fazer cinema, eu até ia, mas para Espanha?! É, mas para ir à Califórnia, tinha que primeiro mandar minha mãe juntar dinheiro, para não deixar ela aqui sozinha... Clara! Ouviu alguém pronunciar seu nome. Era seu chefe. Clara, quero te apresentar ao Felipe. Ele será nosso novo webdesigner e ocupará o lugar de Gabriela. Ela mal podia acreditar! Vá para Espanha, sua balofa e deixe o gatinho entrar! Aleluia, ela pensava eufórica, mas sua face não espremia absolutamente nada. Para conseguir manter-se neutra, pensou logo que se na praia ele não a havia notado, ali, não seria diferente. Aí seu chefe disse as palavras mágicas que a tirariam do anonimato. Clara, gostaria que você, que é tão falante e tão simpática, o ajudasse nesta fase inicial. A garota acenou com a cabeça e esboçou um leve sorriso.

No primeiro dia, quase não se falaram, quer dizer, só trocaram informações sobre processos e essas coisas básicas de empresa. Fato que arrasou Clara e a devolveu à invisibilidade. No segundo dia, ele saiu para pegar um café e voltou com dois, um pra ele e outro pra ela. Ela nem sequer precisou pedir, que maravilha, pensou. No terceiro, ele a convidou para almoçar, no refeitório da empresa, junto com todos os outros funcionários, mas ele a havia convidado! No quarto, ele começou a falar dele, das suas aventuras pelo Brasil. Nós somos tão diferentes, pensou, Clara, ele já conhece quase todo o Brasil, é tão charmoso, fala três línguas! Ah! Suspirou e continuou a escutar e a opinar sobre a vida do rapaz. Será que ele um dia se interessaria por ela que era tão medíocre. Falava inglês, não com muita fluência, só conhecia São Paulo, porque concorreu com um curta na Mostra de Cinema e, só ia para praia quando ficava deprimida. Quando ouviu ele dizer que morava na Barra, seus olhos se animaram. Eu também! Ela exclamou. Que coincidência! Pelo menos temos algo em comum, pensou feliz. No quinto dia, ele perguntou se ela ia para o bar da esquina, tomar algo com os colegas. Ela disse que não sabia, ele insistiu de um modo que foi crucial para o seu sim: “Poxa, se você não for eu vou me sentir tão deslocado. Vamos, me ajude a me socializar!” O pensamento brotou como um grito do peito de Clara: Vai, meu filho, diz logo que é louco por mim, me leva para cama que eu não estou mais agüentando! Enfim, ela, que já havia planejado esta noite, umas mil vezes, sendo que, em nenhuma delas os colegas de trabalho estavam presentes e o bar da esquina era um restaurante romântico a luz de velas, não pode resistir. Afinal, era um convite tão doce! Foram, ele se sentou ao lado dela. Clara começou a beber rápido, para que ninguém percebesse o quanto estava nervosa. A bebida é um bom relaxante muscular, pensava ela, já ficando um pouco trêmula só de imaginar ele a convidando para sair. Talvez pelo efeito do álcool, talvez pelo seu próprio desejo, todos os olhares, gestos e ações de Felipe eram voltados pra ela. Preciso me controlar, ela pensava, já estou ficando histérica, mas está na cara que ele está me dando mole! Sua certeza chegou no êxtase quando ele passou a mão leve e gentilmente por sua coxa, fato que a faz estremecer, e ainda pediu seu telefone para que ele pudesse convidá-la para a praia no final de semana. Meu Deus, Clara afirmava para si mesma, que cavalheiro! Não querendo me convidar na frente de todos e criar fofoca no escritório, ele pegou meu telefone, sem que ninguém tivesse se dado conta para sairmos e começarmos a namorar daí. Ninguém do escritório precisava saber. Que gentleman! Clara mal acabara de concluir seu pensamento, quando se depara com Felipe indo embora acompanhado da criatura do pântano da Nilza! Clara já não sabia se estava alucinando, porque aquilo só podia ser um pesadelo, ou se estava ficando louca de imaginar que o cara passou a noite conversando com ela, dando mole pra ela e acaba levando outra, com quem ele conversou por cinco minutos para casa. Será que falei demais? Que o sufoquei? Indagava-se Clara, já a ponto de chorar. Levantou-se dizendo que ia ao banheiro, o mundo todo rodava, foi para casa.

No dia seguinte acordou com um som que mais parecia que todos os sinos da Igreja batiam em uníssono em sua cabeça. Abriu a porta não havia ninguém, desligou o alarme, mas ele não tocou, atendeu o telefone e, nada. Que inferno de onde vem este som?! Descobriu seu celular e abriu o flip muito mais para livrar-se do som, do que por vontade de falar com alguém. Felipe disse “uau! Que noite boa a sua! Estou te ligando desde as nove horas da manhã e nada!” Clara sentiu a raiva subir pela sua espinha. Como é que o filha da puta tinha coragem de ligar para ela depois do que fez ontem?! O que ele queria? Dizer-lhe como foi a noite dele, trepando com a Nilza até às 08:00 da manhã? Ela limitou-se a responder: Estou de ressaca, na segunda nos falamos. E bateu o telefone na cara do rapaz. A mãe a olhou preocupada. Está tudo bem, meu anjo?! Nunca a vi assim. Clara que sempre fora tão objetiva nas suas relações, a mãe arriscava dizer dominadora e centralizadora, estava agora em frangalhos. Ela nem sequer sabia que ela estava numa relação. Era seu namorado, filha?! Clara, olhou para mãe com os olhos vermelhos de raiva e retrucou “Nunca!”

Do outro lado da linha o Felipe estava tentando obstinadamente se livrar da Nilza. Achava que o encontro com a Clara fosse sua salvação, mas a menina, havia batido o telefone na sua cara. Mesmo assim usou o encontro como pretexto para livrar-se da mulher. Deixou-a no ponto de ônibus e foi para a praia. Depois de surfar por algumas horas, foi para casa, tomou uma ducha e ligou para Clara, para almoçarem juntos. Achou estranho ela não ter atendido, resolveu passar na casa dela. Buzinou em todos os andares até que ouviu a voz de uma senhora rosnar “pois não” – pensou, esta deve ser a mãe da Clara! – e como se estivesse sendo esperado disse, A Clara ta aí, é o Felipe. A mãe, que não sabia da missa à metade, ficou radiante da filha finalmente estar namorando. Com isto, não só deixou o rapaz entrar, como o acolheu calorosamente. Felipe se sentiu em casa rapidamente. Quando Clara voltou do mercado e se deparou com Felipe no chão da sala, consertando o ventilador para sua mãe, quase teve um infarto e o evento só não foi uma tragédia porque conteve a queda dos doze ovos que havia comprado. Posso saber o que você está fazendo aqui? – questionou ela ainda em cólera. Vim almoçar com vocês. Vocês, quem? Saiu olhando pros lados tentando encontrar vestígios da Nilza. Com você e a sua mãe. Clara, cadê a educação que te dei? É assim que se recebe as visitas? – indagou a mãe, que ouviu como recíproca: Não, mãe, é do seu jeito, colocando elas pra consertar tudo o que está quebrado na casa! A mãe ficou lívida, o mocinho deu um sorriso amarelo e comentou que ela devia ter dormido pouco e, por isto, estava de mal humor. Foi para cozinha ver a menina. “Sabia que delicadeza na hora do almoço abre meu apetite?!” – ironizou Felipe. “É, então, vá encontrar a sua delicadeza em outro lugar, porque aqui, você não vai encontrá-la. Quem te convidou?! Como é que você vem pra casa dos outros sem ser convidado? Eu por acaso te disse, venha almoçar comigo amanhã, disse?! Então, meu filho, você, é o cúmulo do indelicado, não pode falar de mim! Ponha-se daqui para fora!”- vociferou Clara.

Foi neste momento que a mãe interferiu. Clara Dantas, o menino fica! Clara detonou a cara da mãe em pensamento, engoliu a seco e foi para o quarto. Mais uma vez, o Felipe foi atrás dela. “Fala sério, você gosta que eu fique atrás de você, né?!”- disse Felipe com um tom de malandro. “ Não, quero privacidade e espaço, coisa que achei que poderia ter na minha própria casa e na minha vida, até você chegar”- zombou Clara. O rapaz não entendia porquê Clara estava tão nervosa. Lançou a última pedra, para evitar passar um sábado solitário e enfadonho. “Tá, eu almoço aqui e vou embora. Mas, aviso logo que eu tenho ingressos para o pré-lançamento do filme Esmeralda e queria vê-lo com você...” – replicou Felipe. Os olhos de Clara se iluminaram. “Esmeralda?! Nossa, eu estava louca para vê-lo...”- disse Clara já visualizando o lindo trailler da película.”Então, eu fico aqui até umas 5 e a gente vai pro cinema juntos. Topa?”- arriscou Felipe. A tarde decorreu tranqüila.

Clara já quase havia esquecido o incidente “Nilza”. Voltou a sonhar com Felipe lhe fazendo juras de amor. No cinema, Felipe apoiou a cabeça em seu ombro e ficou assim o filme todo. Puxava sua mão para guiá-la. Ela estava namorando! Pensou! No domingo, foram a praia, comeram juntos e se despediram só à noite.Clara já não se agüentava de tesão. Mas, Felipe parecia levar tudo muito bem. A semana passou, ela começou a ir e voltar do trabalho com ele. Chegou a sexta, a turma do trabalho saiu e o Felipe ficou com a Dóris.

P U T A Q U E P A R I U! – Desta vez, Clara não pode se conter, exclamou em alto e bom som. Mas, todos acharam que ela era apenas uma entusiasta revoltada com a forma como as lideranças encaravam a crise mundial.Voltou para casa. Trêmula, não mais de tesão, não mais de paixão, mas de pura auto comiseração. Ela estava certa, era invisível, não era mulher de parar o trânsito, não era mulher de parar nem construção! Em meio a estes pensamentos, atravessou a rua e quase foi atropelada, desviaram, não pararam o carro. Nem suicida, ela conseguia parar o trânsito.

Na manhã do sábado, seu celular começou a tocar às nove e meia. Ela adivinhando quem era, ficou na dúvida se atendia ou não. Não atendeu. Felipe acabou aparecendo. Chegou cumprimentando a mãe – que sem saber do inferno que o rapaz fazia na vida de Clara, ficava feliz da filha, finalmente, ter arrumado um namorado. Será que desta vez ela casa? – sonhava sua mãe. Clara se deu conta de que havia alguém na casa, porque Felipe entrou no seu quarto, beijou sua testa e deitou na cama com ela. “É o fim da picada!” – exclamou a menina. Felipe, ignorando o recado, disse que ela cheirava tão bem, que a cama dela era tão macia, propôs que dormissem um pouco e fechou os olhos. Clara, não se conteve, empurrou o menino da cama, derrubando-o no chão. Felipe, assustado, com a reação inesperada, questionou o porquê de uma atitude tão bruta. A garota, que já se sentia com o jogo perdido, ou com delírios esquizofrênicos, responde aos berros que se ele quisesse dormir que ele fosse pra casa de Dóris ou Nilza, que elas são feias e fedorentas, mas que era disso que ele gostava!

Felipe, se dando conta da situação, sorri de soslaio e diz que volta mais tarde para eles irem ao teatro; porque naquele estado de nervosismo dela, ele não ia ter paz. Clara, aproveitando-se do vocabulário usado, retruca, então para que ele a deixasse em paz. E acrescentou: “Não volte aqui nunca mais!” O garoto foi embora, não ligou, nem voltou a aparecer na casa de Clara por todo o final de semana. O peito de Clara parecia que ia explodir de saudade. Um lado dela exclamava que ela havia desejado tudo aquilo, sem ele na sua vida, ela teria paz; prosseguia informando-lhe que ele era um cafajeste e que ela não queria um cafajeste ao seu lado, que, com certeza lhe trairia a qualquer momento. O outro, (o diabo, com certeza!), respondia – “Você quer voltar aquela pasmaceira de vida, sem emoção! Com Felipe é um novo frisson a cada dia!. Quando foi a última vez que você se apaixonou, quando você tinha 15 anos?! E nem foi correspondida!” Confusa e quase surda de ouvir seus dois lados dialogarem as gritos, Clara resolveu ir ao cinema, para se calar, definitivamente. Escolheu um filme de amor, onde os personagens ficavam juntos no final. Clara levou 15 minutos para sair do cinema, estava aos prantos, desejando que Leonardo de Caprio (Felipe) também a escolhesse e se declarasse para ela!

Segunda-feira, ela nervosa, contendo-se ao máximo para não demonstrar ao Felipe que estava puta, como é que ele teve a cara de pau de não me ligar durante todo o final de semana? – pensava ela com o peito apertado. Deve ter encontrado uma puta. Ai, meu Deus, será que ele encontrou uma namorada?! Em 25 anos, eu só encontrei 2 namorados, como é que ele num final de semana, já encontrou uma nova companheira?! – seus pensamentos fluíam aos saltos, no mesmo ritmo do seu coração Dia corrido, muita coisa a se fazer e Clara aliviada. Até que às 11: 50, vem o Felipe, “vamos?!” “Pro inferno ou pro motel?” - pensa Clara. Mas, ela limita-se a suspender os olhos, não queria que Felipe lesse sua mente, como ele fazia, às vezes. Ele insiste, “vamos almoçar!” Ela responde, sem olhar pra ele – “Estou ocupada, almoço mais tarde” e o Felipe, “tá bom, eu espero você”. A Clara, quase em desespero, “não, vai almoçar, quero almoçar sozinha” - ainda sem conseguir encará-lo de frente. O Felipe vai para o almoço, a Clara, uma hora depois, já com o estômago doendo de fome e nada do Felipe voltar, acreditando que ele já tinha descolado alguém para levar para casa mais tarde, vai almoçar, preparando-se para vê-lo na maior e melhor cena de amor que já havia visto. Ela chega no refeitório, faz o prato, vê onde o menino está e vai na direção oposta. Começa a almoçar de cabeça baixa, suspende o olhar, percebe que ao lado dele só havia homens e começa a comer aliviada. Quando ergue os olhos novamente, não mais o vê, acredita que ele foi embora, quando, por trás dela, alguém a enlaça, abocanha com seu garfo sua couve-flor e diz ao seu ouvido, “uma delícia, né?!” Clara, revoltada com a situação, já que todo mundo no escritório achava que ela era uma otária, porque todos os almoços, Felipe comia com ela, com o garfo dela, no prato dela, mas nunca comia ela! Responde, em alto e bom som: “seu horário de almoço já acabou! E eu gostaria de comer tudo o que coloquei no meu prato”. Felipe levanta-se, pega um guardanapo e volta à mesa. Fica lá olhando para Clara. “Você não acha que almoçar com alguém lhe fitando é muito desconfortável? “ – dispara Clara esforçando-se para comer, sem deixar cair nada na roupa, nem no prato, ou seja, quase sem comer direito, para parecer bonita enquanto o fazia. Felipe, sem deixar de fitá-la, responde, “eu não, eu me sinto tão confortável com você, como se pudesse ser eu mesmo...”. “Que sorte, pensou Clara, porque eu acho que tenho que ser a Miss Brasil e Miss Burra, pra você me levar para cama!”. E o rapaz continua, “você veio de carro?” Clara retruca que teve que colocar o carro na oficina e continua a falar a respeito. Acaba seu almoço quase que duas horas depois, já conversava com Felipe, como se não estivesse brava, ainda estava, mas pelo menos, agora, estava mais relaxada. Ele tinha razão, ela se sentia confortável com ele. Mas, por que, então, ele não fazia nada para transformar aquilo numa relação séria?!

Fim do expediente. Felipe chega na mesa de Clara e atira: “Vamos?” “Pra onde, Felipe?” – questiona Clara. “Para casa!” – Felipe responde como se fosse óbvio. “Eu vou com a Amélia, ela mora pertinho de mim.” – diz Clara, tentando fugir. Felipe, questiona, “mas não te falei que íamos juntos no almoço. Eu também sou seu vizinho!” E antes que a menina o convencesse que Amélia ia ficar ofendida, ele grita, “Amélia, pode deixar que levo a Clara”. Amélia, que era doida pelo Felipe, resolveu que amanhã viria sem carro e pegaria carona com ele!

E foram para casa. Felipe pára num bar, para que eles pudessem conversar. Clara, como toda a namorada insatisfeita, começa a discutir a relação. Felipe sorri, diz que compreende, mas que Clara não podia cobrar dele fidelidade já que eles não estavam namorando e não haviam sequer ficado. O tempo de Clara fechou-se. Virou o copo de chopp só de tristeza, viu o mundo rodar e sorriu. Levantou da mesa, ainda um pouco tonta e disse, “vamos embora, estou cansada”. Felipe pagou a conta e percebendo que a menina estava em estado alterado, levou-a para sua casa. E ela dormiu lá, só dormiu. Acordou no dia seguinte, lembrou-se de tudo, viu Felipe ao seu lado, deu um pulo da cama e quando ficou de pé, foi puxada de volta para cama. “Onde você pensa que vai?” – questionou o rapaz. “Para casa” – afirmou a menina. E puxando-a um pouco mais para perto de si, Felipe disse: “Passamos lá, pegamos umas roupas e a gente vai pro trabalho”. Clara, que sentia o órgão quente e latejante do menino no seu quadril, ficou excitada na hora. Desvencilhou-se dos braços dele e foi ao banheiro. Bateu uma punheta e saiu com os cabelos lavados. Felipe, percebendo o jeito da menina, ao vê-la saindo de toalha tem uma nova ereção e, sarcástico, injeta – “demorou no banho! Quase que eu entro...”

Foram trabalhar, Clara, só sorrisos. Num bom humor. Se, só de ter dormido com ele, ela já estava assim, imagina o resto! Almoçaram juntos e à noite, Felipe, ao invés de levá-la para casa, levou-a ao mercado. Comprou queijo, vinho, patê e torradas. Chegando em casa, acendeu velas e abriu o vinho, enquanto Clara cortava o queijo. Ele colocou Chico Buarque no som – cantor preferido da Clara – e propôs um brinde ao encontro dos dois. Clara tomou dois goles de vinho, com Felipe beijando seu pescoço e foi só o que a menina agüentou! Transaram até o sol raiar. Felipe era tudo o que prometia e ainda mais!

Chegaram os dois de cabelos lavados no trabalho, felizes, sob os olhos invejosos de Dóris, Nilza e Amélia. E a semana seguiu assim, Clara nem sequer voltava para casa, ficava todas as noites com Felipe a ver estrelas. Entretanto, na sexta-feira, na saída do pessoal para o bar da esquina, Felipe ficou com a Amélia, bem embaixo da fuça da Clara. Confusa e triste, ela pegou um táxi para casa. Viu as três ligações em seu celular do Felipe, não atendeu nenhuma, mas leu sua mensagem, que dizia, “era pra você ter ido para casa comigo!”

No sábado, saiu com as meninas para um bar. Desabafou tudo, em detalhes, parecia, que quanto mais contava, mais sofria, mais sentia-se idiota. Suas amigas foram evadindo-se, uma a uma, não é todo mundo que tem paciência para aqueles que sofrem de dor de cotovelo. Ao final de duas horas, só restava a Amanda. As duas já alegres, inventando xingamentos para o Felipe, foram abordadas por dois rapazes. Um, moreno alto, bonito e sensual, outro, loiro, alto, bonito e sensual. Conversaram por mais três horas, trocaram telefones e ambos telefonaram no dia seguinte. Foram ver um show no parque e o show virou almoço, que, por sua vez, virou jantar. Felipe havia telefonado uma vez e Clara achou melhor desligar o celular e começar algo novo, mais saudável. Ao chegar em casa, deparou-se com o Felipe. Ele havia passado a tarde com a sua mãe, consertando toda sorte de coisas na casa. A mãe enfurecida com a indelicadeza, esbravejou que a menina havia chegado muito tarde e que o Felipe havia esperado por ela a tarde inteira...Clara achando pouco, retrucou, “Ele não me avisou que vinha!” Felipe, demonstrando insegurança pela primeira vez, questionou: “Por que você desligou o celular?” – Clara, vitoriosa: “acabou a bateria!” Agora, se vocês me dão licença, eu vou dormir, já são onze horas e eu tenho que acordar cedo para trabalhar amanhã. Felipe oferece a carona e Clara com meio sorriso lhe informa que o João a pegaria. A mãe em sobressalto acreditando que a filha de santa, virou galinha, antecipa a pergunta do Felipe. “Mas que João?” Clara, com a boca cheia, meu namorado. A mãe, “e o Felipe?!” “AH, mãe, o Felipe é um galinha!”. E o Felipe: “E eu o que?! Você arrumou um namorado em 2 dias?!” A Clara, cínica: “Foi! Por que?! Só você pode fazer sucesso na Bahia?!”

Clara que não estava lá muito a fim do João, mas que havia percebido que ele era um excelente trunfo para fazer o Felipe sofrer o que ela havia sofrido atende as ligações um pouco melosas do João, com o mesmo carinho, apesar de não senti-lo, só quando estava na frente do Felipe, quando o garoto não estava presente, era curta e grossa com o João.E a semana passou assim, convites por todos os lados, tanto do João, quanto do Felipe. De invisível, Clara pareceu ter ficado embaixo de um holofote! Recusava todos os do Felipe, que curiosamente, não havia ficado com ninguém do escritório naquela semana; “Haviam acabado as opções?” Aceitava apenas alguns poucos convites do João, para que o rapaz continuasse a lhe telefonar.

E assim passou o mês, até que o Felipe agarrou-a ali, na saída do banheiro mesmo, e os dois transaram loucamente, como só os que ardem de tesão fazem, no cubículo do banheiro, depois dentro do carro do Felipe, depois, na cama do Felipe, no chão do Felipe, na cozinha do Felipe, na varanda do Felipe, na piscina do prédio do Felipe. Ufa! Ao fim da maratona, Felipe indagou sobre sua relação com o João e Clara, ainda, levitando, respondeu, “não está tão bem, né; caso contrário não estaria aqui”. E a resposta foi suficiente para que o Felipe reiniciasse a maratona.

Clara percebeu seu erro no dia seguinte, na festa da Soraia. Felipe apareceu com uma mulher de parar o trânsito e ficou ali, na frente dela, para onde quer que ela olhasse, lá estava ele com a loiraça! E ela, que havia dispensado o João, na esperança de ficar com o Felipe! Que burra! No dia seguinte, o primeiro a aparecer foi o João, veio para terminar tudo. Já fazia três meses que estavam juntos e Clara não havia dado o menor sinal de interesse intelectual ou sexual por ele e ele queria mais do que aquilo. Só de ouvir suas palavras, Clara ficou com lágrimas nos olhos. Fechou a porta do quarto, beijou-o ternamente e o levou para cama. Lá fora não estouravam fogos de artifício, seu corpo não ardia de tesão, João não era um fenômeno na cama, mas a tratava com tanto carinho, com tanto desejo, a tratava como se fosse, ao mesmo tempo, uma boneca de porcelana e uma vadia. Felipe nunca a tratara como uma boneca, um saco de pancada, talvez, uma vadia, com certeza, mas com amor, nunca. Encantou-se por aquilo tudo, por aquele homem muito mais bonito, mais charmoso que o Felipe. Como não houvera percebido isto antes?! E entregou-se a ele sem barreiras, gozou assim também, ali mesmo na sua própria cama, com sua mãe na sala. Escondeu o João embaixo do seu lençol quando a mãe bateu na porta para saber o que havia acontecido com a menina para dar aqueles gritos, mas ela só sorria, desculpou-se com a mãe, disse que tomou um susto e que não era nada. Despediu-se do João sob a promessa de irem mais tarde ao cinema.

Na hora do cinema, chegou o Felipe. João não entendeu nada quando ao pegar a namorada, encontrou com o Felipe na sala, tomando coca cola e discutindo com a menina. O tom da discussão soou estranho para o João, que percebeu que havia algo ali. Confrontou Clara e ela sem saber porquê não conseguiu mentir. Disse que era apaixonada pelo Felipe, que eles tinham uma relação mal resolvida, mas que ele hoje, havia despertado nela algo maior e muito melhor que aquilo que ela sentia pelo Felipe. João se sentiu traído, saiu batendo a porta e não voltou mais, nem sequer atendeu os telefonemas ou e-mails de Clara. Felipe foi consolá-la, acabou consolando-a na sua cama. Quando Clara já voltava a ter recaídas pelo Felipe, encontrou um recadinho na geladeira de mais uma mulher do escritório, dizendo que a noite anterior havia sido inesquecível. Caiu em si. Havia trocado o amor pela paixão e estava caindo do terceiro andar e como aquilo doía. No caminho para casa, resolveu procurar João. Havia se passado um mês desde que terminaram, entretanto, só naquele dia, naquele momento Clara se deu conta de que não sabia nada sobre o João; seu endereço, seus amigos; os locais que freqüentava. Estava certa que ele já havia comentado sobre tudo isto com ela, mas como, na época, não nutria interesse pelo garoto, não prestou muita atenção. Hoje, vagando, desnorteada, desejava que sua memória lhe provesse pistas sobre tudo aquilo que já havia escutado. Mas sua memória não lhe dizia nada. Questionava-se ainda porque desejava tanto encontrar o João. Afinal sua relação só havia durado noventa dias. Começou a percorrer todos os locais onde já haviam estado juntos. Deu sorte, quando chegou ao bar onde se conheceram, encontrou o João com um amigo, lendo um bilhete. Quem havia lhe mandado aquele bilhete? Uma putinha, com certeza, quem manda bilhete para o namorado alheio é putinha! – inervou-se Clara em pensamento, quando se deparou com a cena

Olhou nos olhos do João, mal conseguia respirar. Disse, apenas, o que conseguiu, sem pensar, e suas palavras vieram entre lágrimas tão inesperadas, quanto a sua reação, “volta para mim, não quero mais ficar sem você.” João surpreso e sem fazer o que fazer, abraçou-a. Disse que ela ia ficar bem, levou-a para praia. Sentaram-se na areia. João falou que achava que ela era mais feliz com o outro cara, que ele não admitia traição e que a relação deles havia passado. Clara, que sempre tivera o domínio das palavras, naquele momento, ouvindo o João, não conseguia dominar sequer a si mesma. Dizia coisas desconexas, mas repetia, constantemente, ”quero ficar com você, só com você, demorei pra perceber...” João, mais por compaixão que por amor, disse que eles podiam tentar recomeçar do zero, como amigos e se daí surgisse algo, eles podiam seguir em frente, se ambos concordassem.

Quando chegou em casa, Clara rezou baixinho, para que João se casasse com ela! Foram levando a relação assim, aos poucos, cada dia com João era uma nova descoberta. O tempo ia passando e ela ia ligando cada vez menos para o Felipe, que investia cada vez mais nela, só que, agora, não surtia mais o efeito devastador de antes. Clara estava decidida a não mais trair o João. Depois de seis meses assumiram o namoro. As investidas do Felipe continuavam, porém, tornaram-se mais esparsas. Quando completaram um ano de namoro, João pediu sua mão em casamento para sua mãe. Dona Sônia não pode conter as lágrimas, sua filha não seria mais uma solteirona! O Felipe soube do casamento, mas não foi convidado. Ele, que já havia comido o escritório inteiro, já morava com uma das mulheres do escritório, ao saber do fato, ficou possesso. Foi para casa de Clara, disse que nunca havia amado ninguém como ela, que era fácil e difícil ao mesmo tempo e que lhe trazia paz, ainda pediu para que não se casasse. O João chegou quando o Felipe dizia que ela era a mulher da vida dele. O João esperou a reação da mulher, quando a viu sorrir, já ia retirar-se e cancelar tudo, quando percebeu o sorriso de Clara virar uma gargalhada. A língua ferina da sua noiva atingiu Felipe em cheio, quase o partindo ao meio: “Você precisa de tratamento psicológico, meu querido! Você não ama ninguém, só a você mesmo! Você está casado com alguém, separe-se! Porque ela, com certeza, merece algo melhor! - gargalhando – me ama, ama a puta que te pariu, se é que você a ama, quer casar comigo?! Quer?! Case com meu peido, que ele ainda fede menos que você e saiu, peidando da sala para o quarto. Quando Felipe ia atrás da menina, João o colocou para fora aos murros e pontapés.

O casamento de Clara e João aconteceu no dia 20 de março. A cerimônia foi como ela sempre quis, curta e simples. A festa foi de arromba! Os convidados diziam que nunca viram um casal tão feliz e que se amavam simples e explicitamente. Dez anos depois, Clara e seus dois filhos passeavam pela orla. Ela viu Felipe sair do mar com sua prancha. Lembrou-se da primeira vez que o viu, de como se sentiu e sorriu. Seu casamento com o João não era um conto de fadas, mas dez anos depois ainda era feliz, tão feliz, quando da data em que se casou. Mas ver Felipe quinze quilos mais gordo e cheio de banhas a fez sentir-se linda! Soltou uma gargalhada. Seus filhos assustaram-se. Questionaram o que fazia a mãe sorrir. Ela respondeu: “A vida, meus amores, a vida me fez ver que sou feliz!”

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ctrl C, ctrl V


Sinto que minha vida ainda não está do jeito que quero e os dias parecerem uma repetição sem fim. Me falta prazer e entusismo para seguir. Não tenho mais aquela "liberdade" para abandonar as coisas que já não me interessam. O trabalho suado, desgastante e chato, o salário curto e rápido sempre acaba antes, enquanto o dia, sempre acaba depois. As queixas viraram óbvias e foram deixadas para depois. E assim sigo, num ctrl C, ctrl V, copiando, repetindo, apesar de tantas mudanças.

Já ouvi diversas vezes que um dia não é igual ao outro já tive provas concretas disto, mas, ainda assim...ctrl C, ctrl V

Hoje, pensei em voltar a dançar, mas estou sem dinheiro, ctrl C, ctrl V

Hj vou me mudar, ctrl C, ctrl V

Até que um dia as coisas chegam e a revolução levanta as folhas e as mil cópias, mas até lá ctrl C, ctrl V.

quarta-feira, 18 de março de 2009

segunda-feira, 9 de março de 2009

God is Great!


Ontem fui assistir a um filme que ganhou o Oscar. Não sou chegada a este tipo de coisa, o Oscar, para mim, é apenas uma forma de marketing da indústria cinematográfica para levar um público ainda maior para as telonas e, como eu nem sempre concordo com a opinião dos jurados, resolvi não assistir o filme vencedor. Mas, eu estava na sala escura, para assistir outro filme, quando vi o trailler do filme Slumdog Millionaire (Quem quer ser um milionário – no Brasil) e a doçura do trailler me tocou. Pensei que, de repente, o título podia ter realmente sido merecido.

A película trás a dura e triste realidade da Índia, crianças abandonadas, os catadores de lixo, as grandes favelas, os exploradores de menores, a fome, enfim, as violências que sofrem a cada dia as crianças deixadas ao Deus dará... Via o filme com o coração aos pulos, era real! A realidade da Índia é a mesma do Brasil, dos EUA e de tantos outros países. E aquele menino de 18 anos tinha tido a vida como escola e que escola f.d.p. e ainda assim, ele era doce! Respondia pergunta a pergunta baseando-se na sua própria vida e nas lições que havia adquirido no decorrer dela, e eram muitas as lições, mas, surpreendente mesmo, era ele ainda estar vivo. Jamal, o protagonista, não se impressiona , nem se deslumbra com o poder das armas, do crime organizado, como seu irmão Salim (e quem pode culpá-lo, por ver nisto uma forma de sobrevivência menos cruel para si mesmo?!), que ajoelhava-se e rezava todos os dias para seu Deus, pedindo-lhe perdão por tirar a vida de tantos outros; como os matadores de aluguel dos cangaços, caatingas, cerrados e até meso das cidades, que até hoje trabalham e mantém sua espiritualidade viva (para não enlouquecer, talvez?!)

Mas, a doçura de Jamal é mantida por amor, pelo amor que sentia por uma mulher, Latika, que conheceu na infância, que foi violada por seu próprio irmão, aos 14 ou 15 anos, e dada como “escrava sexual”, também por Salim, ao dono do crime organizado local.

Justo quando eu achava que a película não podia ser mais tocante, Salim me sai com um “God is great!”, quando está a beira da morte, no auge dos seus 20 anos, por ver seu irmão tornar-se um milionário, enquanto ele jaz sem vida. Como, minha gente, God is great?! Os católicos que me desculpem, mas depois de tanta miséria, como é que o cara pode afirmar que God is great?! – com interrogação e exclamação no final mesmo! Creio que na posição dele eu ia achar que God is a mother fucker, who fucked my mother and my life. Para mim, que nunca passei fome, que vivi, enfim, uma realidade completamente diferente e muito mais favorecida que a dele, vá lá que eu exclame “God is great!”, entretanto, Salim, Jamal e Latika parecem pensar o contrário, porque o amor triunfou. E esta foi a lição do filme para mim. O amor entre os dois irmãos, o amor pela vida, o amor pela companheira, que permeou toda a existência das três crianças no filme, o amor que nos faz ter coragem de lutar pelo que queremos e consegui-lo.

Por todo este amor, eu tenho que concordar, God is really Great!

segunda-feira, 2 de março de 2009

MUDANÇAS


Ainda ontem assistia a um programa de TV que trazia a clara mudança visual de personalidades da mídia. E fiquei pensando no quanto uma pequena mudança interna pode refletir na forma como nos vêem e nos vemos externamente, ou vice-versa. Acredito que sempre que passamos por fortes mudanças, independente do tamanho, reagimos com um, igualmente forte, desejo de uma mudança externa. Um corte de cabelo, uma nova cor para as madeixas, um novo par de sapatos, um vestido novo, uma depilação nova. Enfim, creio que um pequeno ajuste de foco, nos leva a querer experimentar a vida de uma outra maneira, e, conseqüentemente, a experimentar coisas novas. Eu, mais taurina do que nunca, me vejo querendo comer coisas que nunca comi, beber drinques para os quais sempre fiz careta... Porque, como me explicava uma amiga, taurinos são assim, vão sempre aos mesmos restaurantes, pedem sempre o mesmo prato, têm uma rotina sempre bem controlada. E eu, que sempre achei isto a maior caretice, me vejo fazendo estas coisas, disfarçadamente desde criança. Desde a chegada dos trinta (e viva os 30!), me vejo querendo experimentar o novo e tenho tido como reflexo, uma nova forma de comportamento, uma nova verborréia, com menos palavrões e gírias, com menos necessidade de ser engraçada ou de ser cabeça ou conselheira...Enfim, mudanças por mais doloridas que sejam, acabam sempre sendo gratificantes, por mais que na hora que o caminhão passe por cima do nosso dedão, a única resposta lúcida por 3 meses seja praguejar, os outros 9 meses, serão de pura descoberta de novas vias de pensamento e de consciência, afinal, como prega a física quântica, somos pura energia, e atraímos para nós mesmos aquilo que queremos, mesmo que a princípio, a atração pareça ser fatal. Creio que a cada morte, como na história do gavião (que se choca contra o rochedo até quebrar o bico e arranca com os próprios dentes as unhas), renasçamos outros, diferentes, melhores, com menos necessidade de nos machucarmos, com menos gosto por roer as unhas, com mais vontade gavião de viver e renascer a cada ano. Como o sol ou a lua que renascem a cada dia e não sofrem por isto, porque, se pararmos pra pensar, é justo o que acontece conosco, renascemos a cada dia, diferentes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Quem não se comunica...


Estou tendo várias " trumbicações" recentemente. Escrevo um mail aqui, recebo a notícia que devo corrigi-lo só depois de tê-lo enviado. Me dizem para ir para Itapuã, mas era pra ter ido para nazaré. Em Nazaré, me dizem que tinha que ter ido para Saúde! Ai, cadê minha saúde para tanta falta de comunicação?! Agora é a vez do banco, me mandam dois cartões iguais! É, como diria o velho guerreiro, quem não se comunica, se trumbica!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Luz sob o Invisível


Ouvi uma reportagem na Tv sobre as pessoas invisíveis. E hoje me senti invisível. Quase fui atropelada na rua por uma senhorita que saía do estacionamento. Pensei: "será que esta senhorita não me enxerga?!" E, de repente, a reportagem do ser invisível fez sentido. As pessoas já não se olham no olhos, sentem medo da agressividade do outro, ou de excitar (incitar) a agressividade no outro. Aqui, em SP, isto me pareceu ainda mais forte. As pessoas no metrô me pareceram estar sempre exaustas, cansadas demais para tentar qualquer comunicação ou tristes demais e, qum sabe, até um pouco frustradas para tal. Aqui em Sampa, vejo de forma mais clara que em Salvador, um movimento de voltar-se para suas conchas, de encerrarem-se em suas casas e de lá, do lugar seguro assistirem tudo, sob olhos imaginativos, talvez um pouco influenciados pela TV. Porque ali, no estrito espaço que chamam de lar, se identificam no espelho de seus quartos, de seus lavabos e se enganam tentando crer que não precisam ser identificados por mais ninguém. Aprendi que ninguém é uma ilha e todos, sem excessão, estão loucos para serem reconhecidos, vistos! Seja no trabalho - talvez por isto hajam tantos workaholics... - no caminho que traçam nas suas vidas, seja ele físico ou não, por suas famílias, por mais que distantes... Ninguém é uma ilha e ser visto e identificado mesmo que seja na carteira que lhe dá identidade é tão fundamental quanto ganhar de presente um olhar que convida, um olhar que sorri, que lhe pede um carinho ou lhe agradece uma gentileza, ainda mais quando nos sentimos tão apagados, que já não conseguimos nos ver tão bem e nos sentimos no escuro. Assisti a um episódio de Sex and the City em que uma das mulheres - Samanta - a que era avessa a grandes intimidades na relação, sentia que seu atual parceiro podia vê-la, mesmo quando ela mesma não conseguia enxergar-se, pois estava no escuro. E, acho que é isto! Acho que precisamos muito sermos vistos, principalmente, quando estamos no escuro. Alguém pode, por favor, acender a luz do mundo?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O Novo


Dia 31/12/2008, chegamos na praça de Miguel Calmon às 22:30. Levamos as crianças para o parque e, de repente, o cantor de um palco improvisado grita no microfone: feliz ano novo! E meu ano novo começou assim... meio mais ou menos... Chego em casa no dia 06/01/09 para encontrá-la detonada. Recebo no dia seguinte um mail informando sobre o fim do contrato de aluguel de um imóvel e outro, dizendo que segunda era o último dia para realizar meu teste demissional. Nossa, não vi os fogos de artifício estourando na minha cabeça, não era pra terem estourado só no céu?! Depois de chorar minha tristeza, reorganizar a casa, o armário e algumas outras coisas, me dei conta que a vida estava me empurrando para novos começos, me levando a optar pelas alternativas que já havia escolhido para mim desde o ano passado. Mas quando elas vieram, nossa, que impacto, que medo. Percebi que podia encolher e continuar só chorando, presa na tristeza das perdas. Foi aí que sorri! Meus desejos estavam sendo atendidos muito antes do esperado e se para conquistá-los precisava abrir mão do vellho, que assim fosse, que assim seja! Que venha o novo!