quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Já é carnaval na cidade, acorda para ver!


Morando na Barra, e assistindo de camarote a cidade lotar de turistas malcheirosos, alcoolizados e coloridos, agregando mais fedor e mais poluição visual, física e sonora para a cidade. As ruas vão transformando-se em cercos montados sejam de camarotes, de módulos policiais ou postos de ajuda ao público. A música da gente baiana (arrocha, pagode, axé e outras que não podem ser enquadradas nas categorias anteriores, por pior que sejam, como o chiclete e asa de águia e o tomate...) vai se espalhando em carros de som, em passagens de som nos trios elétricos, nos carros dos braus da cidade, que parecem ter se multiplicado e se espalhado por todos os postos de gasolina da cidade. A cerveja já é sentida a kilômetros de distância seja no bafo alheio, seja nos becos e nas ruas, assim, como o cheiro de urina, que parece acompanhar, não sem propósito, o caminho do álcool. As pessoas usam roupas mais curtas, mais vivas e coloridas. A moda agora são shorts que parecem abrigar fraldas, mas o mini shorts, que escodem muito pouco, parecem jamais sair de moda, para os homens, bermudas xadrez, sandálias de couro e, o que também parece nunca sair de moda, os bonés. Além de tudo isto, as pessoas estão mais abertas, mais sorridentes, mais foguentas e mais agressivas. Todo mundo parece estar a procura de alguém e olhares de soslaio, que miram, seguem, acompanham, checam estão por todas as partes quase deixando todos vesgos de tanto movimento. Os ensaios gerais estão por toda parte, timbalada, chiclete, araketu, jau e tantos outros, andam sempre lotados, apesar dos valores exorbitantes cobrados. E a população ainda reclama da falta de dinheiro. Como, minha gente, este poovo que inicia e termina o verão bebendo, indo para praia, para os shows, para os ensaios, e tudo o mais, ainda reclama da falta de dinheiro. Só se for da falência pós carnaval! Os problemas da cidade parecem gritar, mas todos parecem estar falando mais altos pelo simples desejo de não serem incomodados, apenas, notados. Todos os anos é a mesma coisa. Mas este ano, talvez pelo clima mais quente, pelo maior número de turistas na cidade, pelo crescimento da miséria, talvez por tudo isto junto, a cidade está insuportável. Voltar para casa sem engarrafamentos, sem parecer que acabou de voltar do spinning, ou que acabou de sair do banho e esqueceu de se enxugar (sim, o ar condicionado em Salvador deveria ser item obrigatório no veículos e nos transportes públicos). Enfim, voltar para casa sem se estressar revela-se como uma obra zen criada por um escritor que vive isolado numa Índia distante, ou como consequência de uma sessão pesada de maconha ou massagem. E o prefeito delicadíssimo ainda se expõe num programa de rádio, comandado por um ex prefeito da cidade ladrão, corrupto e cara de pau, pois hoje dirige o referido programa, deferindo impropérios para o público que liga, para seus colegas de trabalho e para os governantes da cidade. O prefeito, revoltado com as críticas responde a altura do programa e da população baiana que o elegeu, dizendo que a culpa da poluição e dos engarrafamentos era dos baianos, que eram mal educados e que a prefeitura nada a tinha a ver com isto. Acho que o comentário infeliz serve como exemplo típico de como é o povo baiano, a culpa é sempre do outro, e não se fala mais nisto, porque, afinal de contas, já é carnaval e a gente só começa a repensar a vida, depois de desfrutar todos os podres, todos os pecados, todos os amores, todos os desgostos, todos os oderes, todos os podres e rigores do carnaval. E já é carnaval na cidade, acorda para ver!