quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Percepções da Cidade


Uma amiga querida minha (Cris Oliveira) me perguntou sobre minhas impressões da cidade, com meu olhar de turista. E foi só diante do questionamento que percebi que estava evitando olhar para a cidade, talvez para não resistir a ela.
São Paulo é uma cidade – que como muitas outras, acredito – mescla muita coisa. Primeiro, a cidade foi e é constituída por imigrantes, dantes italianos, japoneses, espanhóis e portugueses, hoje nortistas, nordestinos, coreanos e peruanos. O que mais escuto aqui é que os paulistanos genuínos estão desaparecendo. Acho pura balela, já que aqui tem milhões de habitantes que, independente de onde vieram, habitam há tanto tempo a metrópole que já são genuinamente paulistanos!
Para minha surpresa, num local que respira cultura, o português deixa muuuuiiittttooo a desejar. A história do lugar também está perdida dentro do acervo municipal da Prefeitura, já que quem aqui vive nada sabe sobre a cidade, como, por exemplo, os nomes dos locais, que são tão pitorescos, como Vila Nhocuné, Jacu-Pêssego, Armênia, Consolação, só para citar alguns. Percebi que aqui, cultura mesmo, encontramos nas pessoas, que trazem suas culturas para cá e as mesclam com o que aqui aprendem e na Avenida Paulista. Nossa! Lá a arte está em toda parte!
Algumas coisas que observei aqui que, por mais que tente, não consigo compreender a lógica paulistana. Primeiro, todo mundo está sempre correndo. Parece que correr, virou um hábito tão rotineiro, que todo mundo está sempre atrasado – única explicação para tanto empurra-empurra e correria! Segundo, se a corrida é o ritmo para chegar a qualquer lugar, então, comer fica para depois e todo mundo digere o café da manhã, almoço ou jantar aos trotes de cada passo. E a comida tem que ser rápida, prática e, portanto, é artificial ou nada saudável! O que se vê pulando nas mãos das pessoas são pastéis, pizza, pães de queijo, batatas fritas etc. Terceiro, diminuir o ritmo aqui parece ser proibido, aí, o paulistano é viciado em café. E como bebe muito café e come em horários loucos e a qualidade da comida é questionável, o pantoprazol ou omeprazol é o remédio campeão de vendas, porque todo mundo tem gastrite. Ainda como conseqüência do ritmo, do excesso de café, da corrida desenfreada para ganhar dinheiro e chegar em algum lugar antes dos trinta minutos, o segundo campeão de vendas das farmácias são os medicamentos para enxaqueca e o terceiro, empatados com os remédios destinados à má digestão e os moderadores de peso, são os estimulantes ou energéticos. Assim, o cidadão aqui é fã das corridas, das comidas gordurosas, do café e sofre muito com as enxaquecas, insônias, dores e tensões pelo corpo. O local é um prato cheio para a Antiginástica!
Aqui a técnica é uma via possível para viver! Porque, como percebem os próprios paulistanos, viver é o que vem depois do trabalho, e só acontece quando há tempo, mas tempo, é riqueza escassa aqui, com tanto engarrafamento, com tanta gente nos ônibus, metrôs e trens.
No início não compreendia porque todo mundo era tão bruto nos transportes públicos. Mas, São Paulo ensina que perder o centro, a calma, a paz e o tempo aqui é muito mais fácil que ganhar qualquer um desses. A brutalidade é fruto dos ensinamentos da cidade. Para minha alegria, ela não é partilhada por todos!
Nos meus 2 meses e meio aqui já vi motoqueiro morrer, senhores caírem no metrô e só serem auxiliados por mim, gente enlouquecendo de solidão pelas ruas da cidade, homens no metrô abrindo os zíperes para aumentar o contato entre a bunda da moça da frente e o órgão sexual dele (isso é recorrente pelo visto nos horários de pico, quando tirar o pé do chão ou ajeitar os braços é impossível!) e no mesmo transporte, gente que sequer se conhece se beijar. Acho muito para o pouco tempo. Mas, também, vi flor nascer do meio do cimento, árvores florirem do galho de outras, o perfume das flores nos parques, gente que mal me conhecia abrir as portas de si e da casa para mim, árvores florescerem lindas em pleno inverno, gentileza no meio do metrô lotado, cegos sendo auxiliados por gente que passava e identificaram alguma dificuldade para o deslocamento.
Enfim, adoro ver a cidade como turista que sou, andar sem pressa para qualquer lugar – já que saio três horas antes para qualquer lugar! – os cafés na rua, os parques, as árvores, a conversa daqueles que se perderam pelas ruas e pelas drogas daqui, as conversas dos nordestinos e nordestinos com sotaque paulistano e a sensação de que aqui tudo acontece, se você está com os olhos e coração abertos para ver e sentir!