quinta-feira, 19 de abril de 2012

Poesia Chula





Outro dia ouvia uma música que dizia que a vida era uma aventura e fiquei me questionando quando a minha tinha deixado de ser. Sempre escuto aquele papo que enquanto ainda se é estudante a vida é uma maravilha, que este é o momento de curtir sem responsabilidades, etc. E percebi que, de certa forma, a medida que a vida vai passando a gente - digo eu – vai se cercando de certezas, seguranças que tornam a vida rotineira, mas, definitivamente, a deixam com uma cara conhecida e o conhecido é sempre tão mais fácil de lidar, do que o escuro do desconhecido. Imagine só viver uma aventura a cada dia! É muita emoção para o corpo, uma parada cardíaca iminente!




Ai, criada a rotina, a melhor coisa que se pode fazer é quebrá-la, pelo menos de vez em quando. E foi o que fiz. Então, um dia, sai de casa às 19:30 da noite, de ônibus e fui para o Teatro Castro Alves, assisitir a um show da Conexão Vivo, de uma banda do interior de Feira de Santana chamada Quixabeira da Lagoa da Camisa ou qualquer coisa assim. Primeira surpresa, não conhecia ninguém no teatro – logo, minha esperança de uma cerveja após o show foi restrita ao aconchego do meu lar - nada reconfortante, quando se parte em busca de aventuras...



Alguns minutos após minha chegada, o show começou. Sentei entre um casal e um senhor. Conversava com eles o quanto minha timidez permitia e quanto mais me sentia em casa, menos tímida ficava. Entram no palco 10
pessoas. 3 senhoras de vestidos de seda combinados da mesma cor, praticamente, que reluziam no palco. E 7 homens de boné ou chapéu de vaqueiro. Conversa pouca, chula primeiro. Aquele vocalista de lingua presa, que tinha uma voz que quase não se escutava, aquele bando de senhorzinhos tocando como adolescentes, aquelas senhoras dançando com os pés arrastados e os braços presos ao corpo, aos pulinhos, com uma voz esganiçada, típica do vocal interiorano da Bahia e eu, lá, emocionada, as lágrimas me escorriam enquanto remexia na cadeira, junto com o casal ao lado. O público batendo palmas, e eles – a banda – de tão humildes, quase não levantavam as cabeças dos instrumentos para apreciar o público que lotava a Sala do Coro. Achei lindo! Deram tudo de si, a viola quebrou, mas eles não paravam, uma música atrás da outra, o violerio parado, todo duro, com as mãos cruzadas na frente do corpo e ninguém perdia o tom ou o rebolado. E vi nos olhos deles, que aquilo, para eles era uma aventura, como eu tinha me aventurado indo sozinha. Mas, a deles era maior. Era uma viagem, era reconhecimento, era aplauso.



O show não foi o melhor da minha vida. Podia ter sido visto de casa, ou na beira da estrada para Maria Quitéria. Mas, na vida de cada um, tem um monte de aventuras esperando para serem vividas. Eu me inspirei neles para ir buscar as minhas, muitas outras. E de lá para cá, vou vivendo as minhas, tomando-as como remédio
para fazer feliz a alma que mantenho coladinha a mim, enquanto dou meus saltinhos, mesmo dançando minha chula com os pés rentes ao chão.